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O Preço da Liberdade: A Peregrinação de Refugiados Norte-Coreanos

Por Marcelle Torres

Muitas pessoas me fazem perguntas a respeito do vídeo abaixo da Yeonmi Park, desertora/refugiada norte-coreana e ativista de Direitos Humanos, o qual circula no mundo inteiro desde outubro de 2014 abordando o seu testemunho e as violações de direitos humanos na Coreia do Norte.

A Coreia do Norte é considerada um Estado autoritário e totalitário. Fugir do país em busca de liberdade e vida melhor tem um alto preço, nos aspectos financeiro e social.

Como a deserção pela DMZ (Zona Desmilitarizada, fronteira com a Coreia do Sul) é praticamente impossível, o caminho para escapar do regime norte-coreano é através da fronteira com a China pela travessia do rio  Yalu (Amnok para a Coreia do Norte) e, em seguida, um terceiro país para então pedir asilo na Coreia do Sul ou outro Estado. Acontece que, além de ser extremamente caro (por exemplo, para subornar soldados) e perigoso sair da Coreia do Norte devido à vigilância de soldados na fronteira e da política “vizinho vigia vizinho”, o desertor quando chega no lado chinês do rio enfrenta a vigilância chinesa, traficantes que ficam à espera, principalmente, de mulheres para forçá-las à prostituição, a casamentos arranjados, trabalho escravo, etc – isso porque o governo chinês não reconhece o desertor norte-coreano como refugiado e o repatria.

Repatriar um norte-coreano significa devolvê-lo não só à Coreia do Norte, mas ao seu pior pesadelo: um campo de prisão política, já que ele será tido como traidor da pátria e sua família também poderá ser punida. Caso o norte-coreano consiga chegar “bem” à China, ele precisa fugir para outro país. Geralmente, os destinos são Laos e Tailândia, mas muitos também vão para a Mongólia. Daí, eles pedem asilo na Coreia do Sul ou em outro país. Mas veja, todo esse percurso de fuga pode durar ANOS (3, 5, 7 anos).

Quando um norte-coreano chega à Coreia do Sul, primeiramente ele passa por uma investigação para detectar que ele não é um espião, depois ele passa pelo processo de reeducação e aculturação para depois ser inserido na sociedade sul-coreana. Todavia, muitos não se adaptam à uma sociedade extremamente diferente, moderna, dinâmica, cara, e, infelizmente, acontecem os casos de suicídio ou redeserção. Em todo caso, a Coreia do Norte nunca reconheceu os seus crimes e persiste em negar que viola os direitos humanos e comete crimes contra a humanidade.

Por que isso ainda acontece? Bem, temos implicações econômica e geopolítica por trás de tudo isso. Ainda, a China e a Rússia – membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – geralmente vetam resoluções relacionadas à Coreia do Norte por serem as partes mais interessadas em projetos de infraestrutura e logística que ocorrem em território norte-coreano, como a ferrovia que ligará a Rússia à Coreia do Sul passando pela Coreia do Norte, e também a Coreia do Norte é a principal exportadora de minérios e carvão pra China.

Além disso, manter uma Coreia do Norte tal qual é hoje (exceto pelo seu fator nuclear) interessa à China para evitar o aumento da presença norte-americana na região e contrabalancear a sua hegemonia no mar do sul da China. Todavia, cada vez mais a pressão pela abertura do regime norte-coreano e pelo julgamento de Kim Jong-un e as autoridades do alto escalão do regime pelos crimes contra a humanidade cometidos ao longo desses anos é maior. Cabe a nós torcer e lutar pela mudança do país – uma mudança prioritariamente de dentro para fora, pela libertação dos norte-coreanos, pelo julgamento justo, pelo perdão e pela reconciliação intercoreana.

*Marcelle Torres é especialista em Coreias e articulista do Ecoando a Voz dos Mártires

Filhos de refugiadas norte-coreanas vivem como apátridas na China

Mais de 30 mil crianças ficam sem direitos básicos por medo de deportação das mães.

LONDRES/PEQUIM – Fugir do chamado Reino Ermitão também tem implicações duras na vida dos que tentam um rumo fora da tirania da dinastia Kim. A rota de escape mais buscada, a China, não é o país mais adequado para viver de forma oficial: hoje, há mais de 30 mil filhos de norte-coreanos que não têm acesso a escola, saúde e cidadania chinesa.

A discussão foi levada ao Parlamento do Reino Unido pelo ativista Sungju Lee, que fugiu da Coreia do Norte.

— As crianças vivem como se não existissem, sem direitos básicos. Muitas são filhas de mulheres que foram compradas por chineses de traficantes — disse ele a um grupo parlamentar. — Um garoto de 7 anos com quem tivemos contato deveria entrar na escola na província de Jilin, mas não pode porque não tinha cidadania. Ficou sem educação nem amigos.

O Instituto Coreano pela Unificação Nacional estima 30 mil apátridas com base num levantamento de 2012 — contagem pouco confiável, já que os imigrantes do país vivem escondidos na China por medo da deportação.

A crise de refugiados norte-coreanos começou nos anos 1990, quando a fome matou mais de três milhões de pessoas. Desde então, centenas de milhares cruzaram a fronteira.

Formalmente, a lei permite que qualquer criança com um pai chinês tenha direito à cidadania do país. No entanto, como a identidade da mãe precisa ser revelada, esta acabaria deportada. É mais um problema para os refugiados, considerados ilegais por Pequim, que não permite asilo a cidadãos do país aliado — mesmo sabendo que negar refúgio é proibido.

— As crianças apátridas são um dos sintomas das violações na Coreia do Norte. Até agora, nada tem sido feito sobre o tema — criticou ao “Guardian” Sylvia Kim, conselheira política da Aliança Europeia pelos Direitos Humanos na Coreia do Norte.

As mulheres são traficadas a regiões rurais da China, onde sobram homens. Jihyun Park foi uma delas: forçada a se casar com um chinês, foi descoberta e deportada meses após dar à luz um menino. Passou seis meses presa antes de fugir e se reunir com o filho, Yong-joon.

— A ferida emocional que ele sofreu é enorme. É devastador — diz ela, hoje morando com o filho em Londres.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/filhos-de-refugiadas-norte-coreanas-vivem-como-apatridas-na-china-18630582#ixzz3ziZsTbXu
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COREIA DO NORTE CONDENA PASTOR POR CRIMES CONTRA O ESTADO

O pastor canadense Lim Hyeon-soo, da Igreja presbiteriana coreana da Luz em Mississauga, Toronto, viajava frequentemente para a Coreia do Norte em missão humanitária, mas foi condenado em dezembro pela Corte Suprema da Coreia do Norte à prisão perpétua com trabalhos forçados por “crime contra o Estado”.

Em entrevista à CNN, o pastor disse que passa oito horas por dia, seis dias por semana trabalhando em um campo de trabalho cavando buracos em uma horta, sem contato com o mundo exterior. Lim foi acusado de prejudicar a dignidade da liderança suprema tentando usar a religião para destruir o regime norte-coreano, disseminando a propaganda negativa sobre o Norte para os coreanos no exterior e ajudando os EUA e as autoridades sul-coreanas a seduzir e raptar cidadãos norte-coreanos, e também ajudando nas deserções de norte-coreanos.

 “Espero que eu possa ir para casa algum dia. Ninguém sabe se eu vou voltar, mas essa é a minha esperança. Eu sinto falta da minha família. Estou ansioso para vê-los novamente, e a minha congregação”, disse Lim à CNN.

Abaixo a entrevista de Lim concedida à CNN:

O Canadá condenou no mês passado a pena “excessivamente severa” pronunciada contra seu cidadão, mas até agora não há mais informações sobre a situação do pastor e se ele será libertado.

Lim nasceu na Coreia do Sul e cresceu em Seul. Mudou-se para o Canadá em janeiro de 1986, como parte de um grupo missionário e se tornou cidadão canadense. Parentes e colegas de Lim disseram que ele viajou para a Coreia do Norte no dia 31 de janeiro de 2014, como parte de uma missão humanitária regular para o país onde ele apoia um lar de idosos, uma creche e um orfanato.

“Todos os dias rezo pelo país e pelo povo, rezo para que o Norte e o Sul se reunifiquem, para que uma situação como a minha não aconteça mais”. “(…) O pior crime que cometi foi o de difamar precipitadamente e insultar a mais alta dignidade e do sistema da república”, disse ele na suposta confissão. Mediante as palavras de Lim, evidenciamos o caráter autoritário e repressivo da Coreia do Norte. Pregar o cristianismo no país é uma ameaça ao regime político e acarreta perseguição, tortura e morte dos cristãos. Inclusive, outros estrangeiros detidos na Coreia do Norte e, em seguida, liberados disseram que foram coagidos a fazer declarações semelhantes e confessaram “culpa” durante a detenção. A Coreia do Norte tem regras muito estritas contra qualquer missionário ou atividades religiosas, pois são uma ameaça à supremacia do regime norte-coreano no poder.

Foto: http://www.thestar.com/news/gta/2016/01/11/toronto-pastor-jailed-in-north-korea-toiling-in-labour-camp.html

Fonte: http://www.theguardian.com/world/2015/dec/16/hyeon-soo-lim-canadian-pastor-given-life-sentence-in-north-korea