Não se engane: Erdogan está ansioso por tal guerra. Ele é o único a falar sobre isso. Certamente os internacionalistas esquerdistas obcecados que lideram a Europa Ocidental estão horrorizados com essa perspectiva, e não encontrarão nenhuma medida de apaziguamento e acomodação muito baixa para se inclinar a fim de evitar isso. Mas é improvável que Erdogan esteja satisfeito com algo que não seja a rendição total. Afinal, neste caso, a Áustria fechou apenas sete mesquitas. Há muitas mais na Áustria. Foram fechadas por pregar o Islã político, isto é, a ideia de que a Sharia é a única forma legítima de governo para a Áustria e o mundo. E isso é suficiente para Erdogan ameaçar com jihad. Então ele está essencialmente dizendo que a Áustria, e a Europa em geral, devem aceitar a islamização lenta ou a islamização rápida. Ou a Europa permite que os imãs preguem a Sharia e a supremacia islâmica, levando à lenta islamização do continente, ou enfrentará uma guerra de jihad com o objetivo de conquistar e islamizar o continente. É render-se ou ser subjugado à força.
“Erdogan adverte que a repressão dos imãs na Áustria levará à guerra santa” , AFP , 10 de junho de 2018 (graças a The Religion of Peace ):
ISTAMBUL, Turquia (Reuters) – O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, criticou no sábado a decisão da Áustria de fechar as mesquitas e expulsar os imãs financiados pelos turcos, criticando a decisão como anti-islâmica e prometendo uma resposta.
“Receio que essas medidas tomadas pelo primeiro-ministro austríaco levem o mundo a uma guerra entre a cruz e o crescente“, disse Erdogan em um discurso em Istambul.
O crescente é um símbolo associado ao Islã.
Seus comentários foram feitos no dia seguinte ao anúncio de que o governo austríaco poderia expulsar 60 imãs e suas famílias, fechando sete mesquitas como parte de uma ofensiva contra o “Islã político”, provocando fúria em Ancara …
Polícia abateu ainda duas pessoas suspeitas do ataque.
Um carro explodiu nesta quinta-feira, junto a um tribunal em Izmir, na Turquia, causando a morte a pelo menos duas pessoas, confirmou Erol Ayyildiz, o governador local.
As vítimas mortais serão um polícia e um funcionário do tribunal – e cinco feridos, alguns em estado grave. Os suspeitos estavam armados com armas Kalashnikov e granadas, informou ainda o governador. A polícia turca abateu dois suspeitos e as buscas pelo terceiro estão ainda a decorrer.
Erol Ayyildiz acrescenta que os indícios recolhidos até agora sugerem que os responsáveis por este ataque pertencem ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla turca). O jornal turco Daily Sabah confirma também que vários membros do PKK invadiram o edifício do tribunal, empunhando armas automáticas, enquanto havia funcionários e cidadãos lá dentro.
Ayyildiz nota ainda que a polícia deu conta do carro e tentou intervir. Só que nesta tentativa os responsáveis do ataque detonaram o veículo. O governador de Izmir disse que havia outro carro-bomba que foi neutralizado no local, tendo sido igualmente apreendidas oito granadas de mão e vários lançadores de granadas.
Na noite de Ano Novo a discoteca turca Reina, na cidade de Istambul, também foi alvo de um ataque já reivindicado pelo Daesh que vitimou 39 pessoas. O Parlamento turco iria decidir, esta semana, o prolongamento do estado de emergência por mais três meses, disse o primeiro-ministro, Binali Yildirim.
O Estado turco impõe-se pela força militar no Curdistão, sem distinguir civis de combatentes. A pretexto da luta contra o terrorismo, foi desencadeada uma verdadeira guerra contra os civis no Sudeste do país, desde meados de 2015.
Há um ar pesado, um cheiro a fumo e uma poeira que se infiltra na garganta, nos pulmões. Estamos em Nusaybin, território curdo, no limite sudeste da Turquia. A guerra da Síria está a dois passos. É ali que começa a fronteira: Al-Qamishli, na Síria, é a um passeio dali, embora passando uma terra de ninguém com 600 mil minas prontas a explodir. Mas é um engano dizer as coisas assim; na verdade, a guerra já mora ali.
Raqia Tovan tem um rosto jovem, mas triste, carregado, coberto por um lenço escuro, com flores azuis e vermelhas, atado sob o queixo. As memórias do último ano são amargas. O Exército turco lançou uma brutal ofensiva contra os curdos, após as legislativas de 7 de Junho, quando o Partido Democrático do Povo (HDP), pró-curdo, entrou para o Parlamento em Ancara. Dessa forma, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder, não teve maioria suficiente para governar.
Várias zonas do Sudeste da Turquia transformaram-se em cenários de guerra: a operação militar do Estado contra os seus cidadãos curdos é um compêndio de violações dos direitos humanos. Para Raqia Tovan, o seu mundo desmoronou-se.
“Quando começou o recolher obrigatório, no primeiro dia, decidimos deixar a cidade. Mas o meu filho mais velho não se quis vir embora. Soubemos pelosmedia, dois meses depois, que tinha sido morto”, contou. “Há um sítio, na cidade de Urfa, onde se pode ir reclamar o cadáver. Mas só achámos partes do corpo do meu filho. Não só o mataram a tiro como o destruíram, desmembraram-no”, diz Raqia Tovan, que vai franzindo o sobrolho à medida que desenrola o novelo da sua história, que veio contar aos visitantes de Nusaybin. “Nem sequer pelos testes de ADN era possível saber se era mesmo ele. Havia muitos corpos destruídos.”
O Governo justificou a operação militar como uma necessidade para lutar contra o terrorismo – não do grupo Estado Islâmico, que controla território na Síria e no Iraque, e tem feito atentados na Turquia, mas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão. O PKK é uma guerrilha que a Turquia considera terrorista e que começou a lutar pelas armas em 1984 pela independência desta nação sem Estado espalhada por vários países (Turquia, Iraque, Síria e Irão).
“Ainda não sei onde está o meu filho. Tudo isto é muito desumano. O Estado matou e destruiu tudo, as famílias, as casas, os homens também. Não consigo dormir. A União Europeia devia saber disto”, diz Raqia Tovan, que quis contar a tragédia em que se transformou a sua vida aos europeus que vieram a Nusaybin, numa missão organizada pelo Movimento Europeu Anti-Racismo (EGAM) e pela Rede de Parlamentares Elie Wiesel.
“O nosso maior problema é a etiqueta ‘grupo terrorista’ que foi colada ao PKK. O Governo pode sempre dizer que está a matar terroristas”, diz Hatip Dicle, co-líder do Congresso da Sociedade Democrática, uma plataforma de movimentos curdos que proclamou a autogovernacão no Curdistão turco no Verão de 2015. “Veja-se o exemplo do apartheid: o mundo isolou o Governo racista da África do Sul, enquanto não fez a paz. Se o Governo turco não tiver o mesmo tratamento, não haverá paz.”
Negação de identidade
Em Diyarbakir, a capital económica e cultual do Curdistão, o exército e a polícia actuaram de forma igualmente brutal. “Se conseguirmos, vamos levar os nossos casos até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Mas parece-nos que a UE não tem ouvidos para esta guerra”, diz Mustafa Çukur, pai de Rozerin Çukur, uma adolescente de 16 anos que foi morta a tiro pela polícia turca em Sur, o centro histórico da cidade, e cujo cadáver só pôde recuperar ao fim de seis meses. “A bala entrou pelo topo do crânio e saiu pelo lado da cara”, explica o pai, com uma calma perturbante.
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O que outrora já foram prédios em Cizre: O Exército turco lançou uma brutal ofensiva contra os curdos, após as legislativas de 7 de Junho
“Destruíram as nossas cidades, queimaram as nossas terras e ninguém faz nada. Agora é porque a UE está a comprar à Turquia uma solução para os refugiados”, acusa Mustafa Çukur. “Fizeram de nós refugiados no nosso próprio país.” Pelo menos um milhão de pessoas foi afectada por esta campanha militar. Só em Sur, 23 mil pessoas viviam nas zonas de intervenção. Agora, vivem em bairros de lata.
Foram impostos longos períodos de recolher obrigatório — em alguns casos, duraram meses, sem interrupção —, durante os quais foram bombardeados. Sur, um núcleo urbano com mais de 7000 anos, com centenas de monumentos históricos, alguns classificados como património da Humanidade, ou bairros de cidades como Nusaybin, Cizre, Silvan e outras. Como se de uma verdadeira guerra se tratasse.
“A Constituição nega o reconhecimento de outras identidades para além da dos turcos da seita sunita, apesar de existirem várias outras no país”, explica Raci Bilici, responsável pela delegação de Diyarbarkir da Associação de Direitos Humanos da Turquia. “Esta luta existe por causa da negação de identidade. O problema da Turquia é ter uma democracia fraca.”
A tragédia podia surgir de uma forma banal: a família de Kemin, uma mulher jovem, toda vestida de negro, lenço negro e olhos afundados, decidiu ficar em Nusaybin. O marido era funcionário municipal. “Depois de 21 dias fechados em casa, decidiu ir à rua, para comprar cigarros”, conta. “Foi atingido a tiro ao sair.”
Hoje ainda há vastas áreas de Sur ou Nusaybin onde é proibido entrar. Vedações ou enormes blocos de cimento servem para bloquear ruas ou bairros, que convivem resvés com lojas de especiarias, churrascos, outras habitações. As crianças entram por buracos e recolhem munições aos quilos, para vender em sacos de 5kg.
Nas décadas de 1980/90, a guerra civil entre o PKK e as autoridades turcas grassou nas zonas rurais. Fez mais de 30 mil mortos e levou os curdos a fugir para as cidades. Mas esta nova ofensiva estatal, que não distinguiu civis de combatentes, é urbana. O objectivo foi limpar o coração das cidades de células do PKK, formadas por jovens, adolescentes ou até crianças, que se radicalizaram devido à herança de frustração e fúria por serem vítimas de racismo e discriminação. A maioria da população curda é muito jovem, com menos de 20 anos — são os “filhos da tempestade” da década de 1990, dos anos dos desaparecimentos forçados, da tortura.
Do telhado de uma casa de Sur vê-se a destruição. Casas sem telhado, paredes derrubadas pelos bombardeamentos e pelo picotado das armas automáticas. Ao longe, uma clareira terraplanada onde foram já demolidos edifícios do que era antes uma malha urbana labiríntica de pedra escura para dar lugar sabe-se (teme-se) lá ao quê.
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Habitantes no topo de Sur, o centro histórico de Diyarbakir, onde viviam 23 mil pessoas que agora estão em bairros de lata
Antes da intervenção, 18% dos terrenos em Sur eram propriedade da TOKI, a agência de desenvolvimento urbano turca, cujas políticas têm levado à expulsão de populações de zonas de Istambul para dar lugar aos projectos megalómanos acarinhados por Erdogan. Com um decreto publicado a 21 de Março, os restantes 82% foram expropriados.
“A minha casa tinha 700 anos e agora já não existe. Antes, ofereceram-me muito dinheiro por ela e não aceitei… Agora, com a expropriação, é muito menos. Mas não vou aceitar”, confia um habitante de Sur. “Põem a bandeira turca em todo o lado. Mas vamos resistir.”
Embora não se conheçam ainda projectos concretos, teme-se que os moradores sejam impedidos de regressar. Sur é um núcleo urbano classificado com vestígios de povos diferentes (arménios, romanos, otomanos, curdos, muçulmanos, e outros) e corre o risco de ser obliterado por construções que imponham o carácter muçulmano sunita.
“Era uma criança”
“Escondia-se aqui um atirador furtivo a disparar”, conta Cahit Morgül, num terraço de Sur. Muito delgado, quase como se o vento o pudesse dobrar, com o rosto encovado e os olhos grandes, tristes, é um pai de luto. “Tinha um filho de 14 anos e mataram-no. Mesmo que tivesse alguma arma, e nunca lhe vi nenhuma, não o podiam ter matado. Era uma criança”, contou.
“Quando atacaram a minha casa, começou a arder. Até usaram helicópteros.” Os momentos em que o Estado desencadeou toda essa força bruta contra um civil ficaram imortalizados em fotos da Reuters. “Também usaram gás, não sabia o que fazer”, conta. Tirou primeiro de casa o filho mais novo. Já não conseguiu tirar o mais velho: os militares mataram-no a tiro.
“A nossa vida familiar está destruída. Se não estivesse aqui convosco, estava com a minha mulher no cemitério. Estamos lá das 14h às 19h, todos os dias”, confessa Cahit Morgül. “O meu filho mais novo tem sete anos. Perguntaram-lhe na escola o que quer ser quando for grande e ele disse que quer juntar-se à juventude do PKK, para vingar a morte do irmão.”
Para se livrar de algumas centenas de militantes — não há números oficiais —, o Governo não hesitou em usar força letal. “O resultado foi uma destruição tão grande que faz lembrar as cidades europeias em escombros após a II Guerra Mundial ou a guerra na Síria”, diz Raci Bilici. Há vários relatos de pessoas mortas em caves — mortas a tiro e depois queimadas.
As barricadas começaram a ser erguidas depois de, em Outubro de 2014, o Presidente Erdogan ter afirmado que Kobani, a cidade curda na Síria tomada pelo Estado Islâmico um mês antes, ia cair. Acabou por ser reconquistada pelos peshmergas, os combatentes curdos, no ano seguinte.
Banhos de sangue
É impossível não ver a sede do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) em Diyarbarkir, na parte moderna da cidade: a entrada está ornada de enormes painéis com a fotografia do primeiro-ministro, Binali Yildirim. Ao entrar, a parede do lado direito, rente à escadaria, tem um enorme retrato do Presidente Recep Taiyyp Erdogan que nos acompanha na subida.
Mustafa Kaçmaz, segundo vice-presidente do AKP em Diyarbarkir, faz uma análise dos motivos desta enorme operação de segurança. “O problema é que o HDP decidiu apresentar uma lista nacional e não concorrer com candidatos independentes, como antes”, analisou.
“Antes das eleições, o HDP dizia que queria continuar as negociações de paz [iniciadas dois anos antes]. Mas depois ofereceram-se para qualquer coligação que afastasse o AKP do poder”, afirma Kaçmaz, um advogado curdo que escolheu juntar-se ao partido de Erdogan.
O HDP, apesar de não ser reconhecido pelo PKK como o seu braço político, paga politicamente como se o fosse. É um partido de esquerda com uma forte componente curda — e toda a política do Curdistão tem alguma coisa que ver com o PKK. Tudo se funde no conceito nebuloso da “organização”.
Sem maioria para formar governo e com a necessidade de novas eleições no horizonte, começou a desenhar-se o cenário de violência. Kaçmaz apresenta a versão do Governo: “O HDP ameaçava as pessoas de que iria haver um banho de sangue, se os futuros resultados eleitorais não fossem os que desejavam.”
Segundo a deputada do HDP Sibel Ygitalp, foi o Governo que atiçou os ânimos, prometendo que a guerrilha curda ia lançar uma vaga terrorista: “A campanha eleitoral do AKP foi cheia de ameaças de banhos de sangue, de tentativas de descredibilizar o HDP, afirmando que os terroristas iam andar à solta se votassem em nós”, afirmou.
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“Não às prisões” ouviu-se nas ruas de Istambul em Novembro, quando o governo turco prendeu dois líderes pró-curdosYASIN AKGUL/AFP
Reforçados pela entrada do HDP no Parlamento e ainda com o amargo de boca das declarações de Erdogan sobre a queda iminente de Kobani, os municípios do Curdistão começaram a declarar em Agosto de 2015 a autogovernação: o princípio defendido pelo líder do PKK, Abdullah Öcalan, preso em solitária desde 1999, em alternativa à independência.
Foram interrompidas as negociações de paz que decorriam há dois anos e o cessar-fogo. Ainda antes da repetição das legislativas em Novembro, em que o AKP teve maioria absoluta, a Turquia caiu numa espiral de violência.
Enquanto os curdos faziam atentados contra alvos militares e policiais, reforçou-se a repressão contra os media em todo o país. E iniciou-se a violenta operação militar contra o terrorismo no Sudeste da Turquia, com os longos períodos de recolher obrigatório.
“O Governo de Ancara não aceita a auto-organização curda, considera-a uma ameaça à existência do Estado turco”, analisou Firat Anli, co-presidente do município de Diyarbarkir, preso dias depois da visita da missão das ONG europeias, que o PÚBLICO acompanhou. É acusado de promover actividades terroristas. A guerra na Síria e o desejo de autonomia dos curdos foram os factores que levaram ao colapso do processo de paz, analisou.
A ex-deputada Ayla Akat Ata, líder do Congresso Livre das Mulheres (KJA), foi deputada durante oito anos e sabe o que é ser um alvo do Governo. Foi presa no mesmo dia que os presidentes da câmara de Diyarbarkir. Feições muito desenhadas, cabelo preto comprido escadeado, dirige uma organização que agrupa mulheres de partidos, sindicatos e associações curdas. O seu tempo no Parlamento valeu-lhe mais de 200 casos em tribunal.
“Uma declaração à imprensa, um comunicado, um pedido de esclarecimento — tudo isso serve, sob a acusação de agir em conluio com uma organização terrorista”, explicou. “Sou advogada, sei que isto não é legal.” Agora, Ayla Akat Ata está na prisão, com novas acusações.
Professores presos
Após o golpe de Estado falhado de 15 de Julho, de que foram acusados os seguidores do imã Fethullah Gülen, multiplicaram-se ainda mais as perseguições, os atentados à liberdade de expressão. Houve uma verdadeira razia entre os professores: entre os perto de 100 mil funcionários públicos despedidos, cerca de 50 mil são professores. E metade pertence a um sindicato de esquerda, o Egitim Sen.
Siyar Sakar Atlian tem uma camisa aos quadrados, calças de ganga justas, o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo, as sobrancelhas finas e arqueadas. “Sou professora há 18 anos e o meu marido há 20. Agora ele está preso, por causa das suas actividades no sindicato. Foram buscá-lo a casa de madrugada, com a minha filha mais velha a ver. Disse à minha mais nova que o pai foi para um campo de férias de futebol. Mas ela começa a fazer perguntas”, conta, num retrato de aflição.
É sempre assim: a polícia vem de madrugada e prende um professor. “Chegam pelas 5h, e temos de responder com uma espingarda apontada à cara e uns grandes focos de luz nos olhos”, contou Semra Kiratli, cujo marido dá aulas há 18 anos e foi levado para a prisão. “Mandam-nos deitar no chão, não tocar em nada. Espalham-se pela casa toda, como se ali houvesse algo de anormal.”
Chegam nos veículos blindados brancos marcados com números garrafais, que andam pelas cidades a toda a hora do dia ou da noite. Intimidam. Revistam a casa, vasculham os livros nas estantes, conta esta mulher vestida de azul, cabelo preto comprido, brincos prateados compridos, brinquinho brilhante no nariz, rosto de meia-lua. “A minha irmã está a viver lá em casa, vai-se casar esta semana, e o meu marido pediu para se despedir dela. A polícia disse que se calhar devia ir ao casamento também.”
O P2 viajou a convite do Movimento Europeu Anti-Racista (EGAM) e da Rede de Parlamentares Elie Wiesel para a Prevenção de Genocídios
Anunciada pelo vice-premier, medida vem após o país declarar estado de emergência.
ANCARA — A Turquia anunciou nesta quinta-feira a suspensão da aplicação da Convenção Europeia dos Direitos Humanos durante a vigência do estado de emergência decretado depois da tentativa de golpe de Estado.
“A Turquia suspenderá a Convenção Europeia de Direitos Humanos à medida em que não seja contrário a suas obrigações internacionais, como a França fez depois dos ataques de novembro de 2015”, anunciou o vice-primeiro-ministro Numan Kurtulmus.
O país acordou nesta quinta-feira sob estado de emergência e com um apelo do presidente Recep Tayyip Erdogan para que o povo turco permaneça mobilizado em favor da democracia e em resistência à ação de “terroristas”.
Mais 32 juízes e dois oficiais do Exército foram presos, os últimos alvos de uma onda de repressão contra os supostos conspiradores da rebelião militar na semana passada.
As detenções reportadas pela agência de notícias Anatolia ocorreram horas depois de o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, declarar estado de emergência durante três meses, numa medida que espera ampliar ainda mais a repressão contra os golpistas.
Até o momento, cerca de 10 mil pessoas foram presas e centenas de escolas continuam fechadas. Em torno de 60 mil funcionários civis foram afastados de seus cargos.
O governo de Ancara atribuiu a rebelião ao movimento religioso liderado pelo clérigo turco Fethullah Gülen — exilado nos Estados Unidos. O Parlamento turco se reunirá mais tarde nesta quinta-feira para aprovar a proposta do estado de emergência de Erdogan.
ALEMANHA ADVERTE CONTRA CAÇA ÀS BRUXAS
Um dia após a medida ser decretada, o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, pediu à Turquia que não comece uma caça às bruxas contra os opositores políticos.
“É essencial que o estado de emergência esteja limitado a uma duração necessária” ao fim da qual precisa ser levantado imediatamente, indicou em um comunicado o chefe da diplomacia alemã.
Steinmeier convocou Ancara a respeitar os princípios do Estado de direito e a manter “a medida justa das coisas” na aplicação deste regime de exceção.
“A tentativa de golpe deixa marcas profundas na política e na sociedade turca”, prosseguiu Steinmeier. “Apenas o envolvimento em atos penalmente repreensíveis pode ser alvo de medidas de Estado, não a suposta opinião política”.
A onda de repressão foi criticada por líderes ocidentais, que apelaram à Turquia para que se respeite o Estado de direito.
Premier acusa PKK e não descarta reintroduzir pena de morte para punir insurgentes
ANCARA — O governo turco afirmou neste sábado ter conseguido controlar completamente a tentativa de golpe militar que criou um cenário de caos no país desde a noite de sexta-feira. Após o aeroporto de Istambul ter sido fechado na noite passada, os voos estão sendo retomados. Novos tiroteios foram registrados nesta manhã, após confrontos terem feito 265 mortos e 1.440 feridos, segundo o governo — o Exército cita 194 mortos. Na madrugada, os turcos responderam ao pedido do presidente, Recep Tayyip Erdogan, de sair às ruas para resistir. Alguns comandantes militares foram mantidos reféns pelos insurgentes, segundo o ministro turco dos Assuntos Europeus, Omer Celik.
Após, na noite de sexta-feira, militares afirmarem ter tomado o poder para proteger a ordem democrática e a manutenção dos direitos humanos, o primeiro-ministro, Binali Yildirim, chamou os insurgentes de terroristas. Ele acusou o grupo militante curdo PKK de participar da iniciativa contra o governo. Chamando a tentativa de golpe de uma mancha negra na democracia turca, o premier disse que a pena de morte não seria descartada como punição aos rebeldes, embora atualmente não esteja prevista na Constituição.
O Ministério de Interior da Turquia, Efkan Ala, ordenou a destituição de cinco generais e 29 coronéis desde o início da tentativa de golpe. Mais de 2,8 mil militares já foram presos pelas forças de segurança turcas. Além disso, autoridades turcas removeram neste sábado 2.745 juízes dos seus cargos, além de cinco membros do alto conselho judicial do país.
Segundo os militares rebeldes, as tradições seculares do país foram corroídas pelo governo de Erdogan, que tem adotado medidas autoritárias contra a liberdade de imprensa e perseguido jornalistas e juízes. Em comunicado enviado por e-mail e veiculado por canais de TV turcos, os revoltosos anunciaram o toque de recolher e a aplicação da lei marcial. Redes sociais como Facebook e Twitter, e sites como YouTube tiveram as operações suspensas.
“As Forças Armadas Turcas tomaram o controle do país para restaurar a ordem constitucional, direitos humanos e liberdades, o Estado de Direito e a segurança geral que foi danificada”, indicou o comunicado assinado pelo autoproclamado Conselho de Paz na Nação, que disse não permitir “uma degradação da ordem pública na Turquia”.
Mas após horas de combates noite adentro, o premier Binali Yildirim afirmou que a “tentativa idiota” de golpe de Estado fracassara e a situação estava “amplamente sob controle”, com Erdogan — que conclamou a população a ir às ruas para apoiá-lo, num discurso transmitido pelo software FaceTime.
O presidente, que estava de férias fora do país, voltou às pressas a Istambul. No aeroporto de Atatürk, ele desembarcou na madrugada de sábado sob os clamores de uma multidão que protestava contra os insurgentes.
Imagens mostravam militares sendo detidos por outros membros das forças de segurança. O general Zekai Aksakalli, comandante-geral do Exército, declarou à TV local que as forças especiais estão a serviço do povo.
— Houve um ato ilegal por um grupo dentro do Exército que agiu fora da cadeia de comando. — disse o premier à rede NTV. — O governo eleito pela população continua no poder. Este governo só sairá quando as pessoas disserem isso.
O principal líder da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, do Partido Republicano do Povo, afirmou que o país já foi alvo de “uma grande quantidade de golpes” e expressou apoio ao presidente:
— Todos devem saber que o Partido Republicano do Povo é devoto à permanência de nossa democracia.
Segurança interna se divide entre o combate ao EI e a separatistas curdos
ISTAMBUL – Há algum tempo, explosões já não são eventos raros na Turquia. Considerado durante muito tempo um bastião de estabilidade entre a Europa e o Oriente Médio, o país entrou em um período de alta tensão se dividindo entre o conflito contra a guerrilha separatista do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em curdo), no Leste do país, e a luta para evitar que a violência da guerra civil na Síria atravesse as fronteira. O Estado Islâmico (EI) apontado pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, como possível realizador do atentado de ontem, também estevePOR trás do ataque em Ancara, em outubro do ano passado, considerado o mais letal da História moderna da Turquia, que deixou 103 mortos e mais de 400 feridos.
Apesar de realizarem ataques em diferentes partes do país, tanto o EI quanto grupos curdos como Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK, na sigla em curdo), uma dissidência do PKK, cada vez mais concentram suas forças nas grandes cidades do país, Ancara e Istambul, onde até então a violência era restrita a escritórios partidários, em especial os das legendas esquerdistas e os do Partido Democrático do Povo (HDP, na sigla em turco), de orientação pró-curda, muitas vezes com a participação de grupos nacionalistas.
O Partido da Frente de Libertação Popular Revolucionária (DHKP/C, na sigla em turco), guerrilha de extrema-esquerda banida do cenário político, também realiza ataques periódicos contra policiais e embaixadas de nações ocidentais.
A proximidade com a Síria transformou a Turquia no principal destino de combatentes que se juntavam ao EI, e o país recebeu críticas pela porosidade de suas fronteiras. O PKK acusou Ancara de ignorar deliberadamente ameaças extremistas, enquanto o grupo jihadista condenou o governo turco, classificando-o como “apóstata e alinhado com os cruzados”, prometendo, em suas publicações digitais, “conquistar Istambul”.
Efeitos são sentidos no turismo
Além das tensões com a Rússia, que afastaram um dos principais grupos de turistas que vistavam o país, os atentados foram um duro golpe contra o turismo, setor responsávelPOR cerca de 11% do PIB turco. Dados do primeiro trimestre apontam uma queda de 6,44% em relação a 2015, e a procura por hotéis no país diminuindo em até 70%. Segundo a BBC, a retração no setor pode chegar a 40% em 2016. Embora o país ainda atraia milhões de turistas anualmente, a França exortou seus cidadãos a “serem mais vigilantes” em pontos turísticos, enquanto o Reino Unido alertou para a possibilidade de “novos ataques que podem acontecer de maneira indiscriminada e afetar locais visitados por estrangeiros”.
A onda de ataques deixou até mesmo os próprios cidadãos turcos com medo de frequentar grandes espaços abertos e locais como shopping centers.
— Estamos vendo uma intensificação cada vez maior da violência — afirma Menderes Cinar, professor da Universidade Baskent, em Ancara.
Em seu primeiro dia de viagem à Armênia, o papa Francisco não se intimidou em usar a palavra “genocídio” para se referir ao extermínio de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano há um século, mesmo sabendo que o vocábulo poderia desencadear um mal-estar diplomático com a Turquia, como já ocorreu no ano passado.
A Santa Sé não previa o termo “genocídio” nos discursos de Francisco, porém o líder católico não quis renunciar à palavra e a disse, em alto e bom som, na capital Erevan, dentro do Palácio Presidencial e diante das autoridades armênias, inclusive do presidente armênio Serzh Sargsyan.
Relembrando um encontro que teve com Sargsyan no dia 12 de abril de 2015, na Basílica Vaticana, o papa disse hoje (24) que, “naquela ocasião, se fez a memória do centenário de Metz Yeghern, o ‘Grande Mal’ que atingiu este povo e causou a morte de milhares de pessoas”. “Aquela tragédia, aquele genocídio, abriu um triste elenco de imagens catastróficas do século passado, tornadas possíveis por motivações racionais, ideológicas ou religiosas aberrantes”, disse Francisco, fazendo uma pausa e acrescentando a palavra “genocídio” à fala. O discurso foi proferido no Palácio Presidencial, em uma cerimônia com as autoridades locais e o corpo diplomático, seu primeiro compromisso da viagem de três dias que faz à Armênia.
A declaração do líder católico deve provocar novas críticas do governo turno, que recentemente convocou o embaixador na Alemanha após Berlim aprovar uma resolução sobre o genocídio armênio.
“Tendo diante dos nossos olhos os nefastos episódios conduzidos no século passado pelo ódio, preconceito e desenfreado desejo de domínio, espero vivamente que a humanidade saiba tirar destas trágicas experiências o ensinamento para agir com responsabilidade e sabedoria para prevenir os perigos de cair novamente em tais horrores”, disse o papa. “É preciso multiplicar os esforços para que sempre prevaleça o diálogo nas desavenças internacionais e a constante e genuína busca pela paz, assim como a colaboração entre os Estados e o assíduo empenho dos organismos internacionais para que seja construído um clima de confiança propício a alcançar acordos duradouros”.
Em suas primeiras horas na Armênia, Francisco também condenou as divisões e guerras atuais. “O mundo está muito marcado por divisões e conflitos, assim como por graves formas de pobreza material e espiritual, entre eles a exploração de pessoas, de crianças, de idosos”.
Serzh Sargsyan, por sua vez, ressaltou que, em breve, a Armênia completará 25 anos de independência da União Soviética e que “muitas coisas importantes aconteceram nesse período, entre eles a visita de João Paulo II”, ocorrida em 2001.
Primeiro país cristão
Francisco visita a Armênia a convite do patriarca Karekin II e autoridades políticas do país. A Armênia é considerada “o primeiro país cristão”, pois o rei Tiridates III proclamou o Cristianismo como religião de Estado em 301, ainda antes do Império Romano, sob o impulso de São Gregório, o Iluminador. O rito armênio é um dos mais antigos do cristianismo do Oriente, com origens que remontam à época apostólica com Tadeus e Bartolomeu – considerados os Apóstolos do país.
Esta é a segunda visita de um papa ao país. João Paulo II esteve na Armênia em 2001.
Três detidos participaram de campanha em favor do jornal pró-curdo mais antigo do país
ISTAMBUL — A Justiça da Turquia ordenou a prisão de um representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Erol Önderoglu, por propaganda terrorista. Ele participou de uma campanha em favor do jornal pró-curdo mais antigo do país, que já enfrentou diversos episódios de repressão. Sob a mesma acusação, também foram presos a presidente da Fundação de Direitos Humanos da Turquia, Sebnem Korur Fincanci, e o jornalista Ahmet Nesin.
Os três detidos exerceram por um dia a direção do jornal “Özgür Gündem” para demonstrar apoio à publicação. Enquanto esperam por um julgamento definitivo, eles foram presos preventivamente nesta segunda-feira.
No total, 44 jornalistas e intelectuais já participaram da iniciativa — dois quais 37 estão sendo investigados pela Justiça, mas ninguém havia sido preso até então.
Nas últimas duas décadas, o “Özgür Gündem” já teve diversos profissionais presos pelas suas publicações que discutem a questão curda na Turquia. Recentemente, a repressão contra o jornal aumentou por conta da luta armada entre o PKK e as tropas turcas.
Antes de serem presos, os jornalistas afirmaram que a iniciativa da Justiça turca é uma ofensiva contra a publicação pró-curda. Com 38 anos de carreira, Nesin disse que nunca havia sido alvo de detenções pelo seu trabalho até hoje — o que, para ele, evidencia a cada vez mais difícil situação da liberdade de imprensa no país.
— Dizer que estamos chocados com o que aconteceu é pouco — disse ao “El País” o representante da RSF para a Europa Oriental, Johann Bihr. — Fica óbvio que, quando as autoridades prendem um defensor da liberdade de imprensa tão proeminente como Erol Önderoglu, o que estão fazendo é enviar uma mensagem intimidatória ao resto. Indicar que ninguém está protegido.
REPRESSÃO À IMPRENSA
Segundo Önderoglu, 28 jornalistas turcos atualmente estão presos. A maioria deles pertence a veículos esquerdistas ou pró-curdos.
Os últimos sentenciados foram o editor-chefe do jornal “Cumhuriyet”, Can Dundar, e o correspondente em Ancara, Erdem Gul. Detidos antes do julgamento, eles foram acusados de espionagem e de trabalhar com um clérigo baseado nos EUA contra a atual administração turca.
Em maio de 2015, Cumhuriyet publicou um vídeo com imagens da polícia encontrando armas em caminhões supostamente ligados à inteligência turca perto da fronteira com a Síria. Isso levantou suspeitas de que a Turquia estaria fornecendo armas aos rebeldes islâmicos no país vizinho.
Em resposta, as autoridades locais insistiram que os caminhões estavam, na verdade, levando suprimentos às minorias turcas no país.
Yeni Akit, un periódico turco conocido por sus fuertes lazos con el presidente Erdogan y su partido, ha tildado con ese titular homofóbico a los fallecidos en el ataque terrorista perpetrado en la ciudad estadounidense de Orlando, a quienes definió como‘pervertidos’ y ‘desviados’.
“El número de muertos en el bar al que asistían homosexuales pervertidos se eleva a 50”, ha sido el titular de este rotativo turco de extrema derecha, anteriormente conocido por su apoyo a Al-Qaeda, y por su odio a las minorías: en particular a la comunidad LGBT, los judíos, los armenios y los cristianos.
Yeni Akit ha apoyado durante mucho tiempo al oficialista Partido de la Justicia y el Desarrollo que apoya al actual presidente Erdogan.
El voto positivo en el parlamento alemán sobre una resolución que reconoce el genocidio armenio, que Turquía niega categóricamente, pone a prueba la “amistad” entre Ankara y Berlín, declaró el jueves el primer ministro turco, horas antes de la votación que aprobó la iniciativa.
“Este texto no quiere decir nada para nosotros y representará una verdadera prueba de amistad” entre los dos países, declaró el premier turco Binali Yildirim en un discurso en Ankara.
Los 630 diputados del Bundestag, la cámara baja del parlamento alemán, se pronunciaron este jueves sobre una resolución parlamentaria titulada “Recuerdo y conmemoración del genocidio de los armenios y de otras minorías cristianas hace 101 años”, propuesta por los grupos de la mayoría, los conservadores de la Unión Demócrata Cristiana y el Partido Sociademócrata, así como por los Verdes de la oposición.
Hasta 1,5 millones de armenios habrían muerto en 1915 a manos de los turcos