Autoridades da Arábia Saudita prenderam pelo menos dez proeminentes ativistas de direitos humanos, incluindo mulheres que durante anos fizeram campanha para conquistar outras mulheres sauditas acerca do direito de dirigir, segundo pessoas com conhecimento das prisões. Nenhum dos presos teve direito a assistência de advogados.
As detenções pareciam fazer parte de uma repressão mais ampla por parte da liderança saudita, liderada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, visando silenciar qualquer ativismo político, mesmo quando o príncipe herdeiro realiza algumas mudanças sociais. Um porta-voz do governo não comentou imediatamente as detenções, que foram divulgadas pela primeira vez por contas de mídia social da oposição saudita.
A Associated Press falou com duas pessoas em contato com os parentes das mulheres presas. Um ativista, que falou sob condição de anonimato por medo de repercussão, disse que cinco foram presas na terça-feira e que a sexta pessoa foi detida na quinta-feira. Várias outras pessoas têm medo de serem detidas e outros foram proibidas de viajar para o exterior pelo governo.
As presas nos últimos dias incluem Loujain al-Hathloul, que foi detida há vários anos por tentar dirigir dos Emirados Árabes Unidos para a Arábia Saudita, e Eman Al Nafjan, professora universitária e blogueira que também havia sido presa por desafiar a proibição de dirigir, de acordo com as pessoas informadas sobre as detenções que falaram sob condição de anonimato porque as prisões não foram tornadas públicas.
Outros detidos nos últimos dias estiveram envolvidos em protestos seminais contra a proibição em 1990, disseram as pessoas.
Ativistas que falaram à AP também de forma anônima dizem que entre os detidos estão três mulheres conhecidas por seu ativismo – Loujain al-Hathloul, Aziza al-Yousef e Eman al-Najfan – e outras três que fizeram parte do primeiro movimento pelo direito das mulheres a dirigir, em 1990, e estavam envolvidas em questões de direitos humanos no reino. À época, quase 50 manifestantes foram presas, perderam seus passaportes e empregos. Al-Nafjan e al-Yousef eram professoras em escolas públicas e são mães.
As mulheres presas também pediram o fim de outras formas menos visíveis de discriminação na Arábia Saudita, tais como leis de tutela que dão aos parentes do sexo masculino uma palavra final sobre se uma mulher pode viajar para o exterior, obter um passaporte ou se casar.
O caso começou no dia 15, quando a polícia prendeu as dez pessoas na capital Riad, e os transferiu para a cidade de Jiddah. Atualmente, sua localização é desconhecida. A mídia saudita afirma que as prisões foram realizadas por forças da Presidência da Segurança do Estado, órgão que responde diretamente ao rei e ao príncipe herdeiro. Segundo ativistas, sete dos detidos estavam envolvidos em esforços para estabelecer uma organização não-governamental que ofereceria apoio e abrigo às vítimas de abuso doméstico. O grupo recentemente submetera ao governo um pedido para estabelecer uma ONG
Quando o reino emitiu seu impressionante decreto real no ano passado anunciando que as mulheres teriam permissão para dirigir em 2018, mulheres como al-Nafjan e al-Yousef foram contatadas pela corte real e advertidas a não conceder entrevistas à mídia ou falar nas redes sociais.
Seguindo os avisos, algumas mulheres deixaram o país por um período e outras pararam de expressar suas opiniões no Twitter.
Ativistas dizem que não está claro por que o grupo incluindo dois homens, foi preso. Entre os homens detidos está o advogado Ibrahim al-Mudimigh, que anteriormente defendeu al-Hathloul no tribunal.
Enquanto os ativistas continuam pressionando o governo, o crédito pelas reformas – como o levantamento da proibição de mulheres dirigindo – foi destinado em grande parte ao filho e herdeiro do rei, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Ele relaxou algumas das regras ultraconservadoras do país ao permitir que mulheres entrem em estádios para assistir esportes e trazer de volta shows musicais e cinemas.
Tais medidas, no entanto, são mais uma forma de impulsionar a economia e melhorar a imagem do país no exterior, e menos sobre a promoção de liberdades pessoais. O reino continua sendo uma monarquia absolutista onde os protestos são ilegais e onde o rei e seu filho supervisionam todas as decisões importantes.
No ano passado, o príncipe Mohammed supervisionou as prisões de príncipes e empresários de alto escalão em uma suposta varredura anticorrupção que forçou detentos a entregar parcelas significativas de sua riqueza em troca de sua liberdade.
As forças de segurança também prenderam no ano passado dezenas de escritores, intelectuais e clérigos moderados que foram vistos como críticos de sua política externa, segundo ativistas.
As prisões e a campanha contra os detidos foram condenadas por grupos como Anistia Internacional e Human Rights Watch, que destacou que as prisões são parte de uma campanha mais ampla de repressão política.
Ao menos publicamente, o príncipe herdeiro — que controla o país — parece estar seguindo o roteiro, afirmando numa entrevista ao programa “60 Minutes” este ano acreditar na igualdade entre homens e mulheres. “Somos todos seres humanos, e não há diferença”, afirmou ele.
A Human Rights Watch diz que o número de pessoas detidas por períodos excessivamente longos aparentemente aumentou dramaticamente nos últimos anos na Arábia Saudita. O grupo de direitos humanos, que analisou um banco de dados público, disse em 6 de maio que 2.305 pessoas foram detidas por mais de seis meses sem ser encaminhadas a um juiz. Outros 1.875 foram mantidos “sob investigação” por mais de um ano e 251 por mais de três anos.
Com informações de ABC News, O Globo, Estadão e Reuters e imagem de Associated Press