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A Contradição do “Lugar de Fala” nos Discursos Feministas

Por Andréa Fernandes

O Dia internacional da Mulher é uma daquelas datas que me irrita profundamente. Nada contra a mulherada, pelo contrário! O que me causa arrepio é o “espetáculo” que a militância feminista faz sob o pretexto de alcançar o “empoderamento” através do exercício do chatíssimo “lugar de fala[1]”, conceito criado por uma militante negra, o qual foi “apropriado” por outros militantes de movimentos feministas, negros e LGBTs em debates nas redes.

“Lugar de fala” representa, segundo seus defensores, a busca pelo fim da mediação considerando que a pessoa que sofre “preconceito” fala por si, como protagonista da própria luta e movimento. Eles acreditam que esse “mecanismo de vitimização” emergiu como contraposição do suposto silenciamento dos reclames de minorias sociais por grupos privilegiados em espaços públicos de debate. Toda essa “esquizofrenia conceitual” desconsidera que “a fala” da imprensa há muitos anos reduz a “sociedade branca machista patriarcal” a um nível depreciativo vergonhosamente “deslocador”. Afinal de contas, é praxe as lideranças das  “minorias” posicionarem suas demandas estigmatizando as “maiorias”, já que “discursos conciliatórios” não integram a agenda nessa “guerra cultural” promovida pela extrema-esquerda, onde a maior vítima é a “verdade”.

Mutilação genital Feminina não combina com “lugar de fala”

O problema é que nessa “conversa mole” de denunciar as chamadas “relações de poder” com base na alegada “legitimidade” para discursar representando determinadas “minorias”, milhões de mulheres são “desalojadas”. Eu explico com um exemplo simples: no “Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina”, celebrado há dois dias, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu o fim da prática que caraterizou como “horrenda violação dos direitos humanos[2]. Cerca de 200 milhões de meninas e mulheres foram submetidas à essa indizível crueldade e, segundo as Nações Unidas, até 2030, o quantitativo lastimável de 68 milhões de mulheres poderão ser mutiladas. Logo, pergunto: qual “movimento” conhecido divulgado na grande mídia e redes vem exercendo o “lugar de fala” dessas “vítimas da barbárie” perpetrada por “trogloditas machistas medievais”? Aliás, convém enfatizar que a “prática” é comum na “Europa”.

Em 2017, foi emitido relatório no Canadá[3] alertando que praticantes de medicina indocumentada especializados em mutilação genital feminina (MGF) que atuavam no país abraçaram uma nova modalidade, qual seja, ofertar seus “serviços desumanos” nas casas dos seus “clientes muçulmanos”. Ah… esqueci de informar no parágrafo acima que a prática é comum em vários países muçulmanos, apesar do relatório da ONU culpar as “culturas” a fim de não permitir que o crime seja identificado como “conduta justificável” de  parte dos seguidores da “religião da paz”. Ademais, relatórios de inteligência informavam naquele ano que DEZENAS DE MILHARES DE MENINAS E MULHERES  nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália passaram pelo procedimento ou estariam sob risco, além do que, no Canadá, as autoridades não tinham como precisar a abrangência dos casos.

As bebês no Reino Unido desprovidas de “lugar de fala”

A dificuldade extrema de detectar a aberração que marca ad eternum a vida das mulheres é um acréscimo no drama vivenciado por BEBÊS no Reino Unido. Preste atenção! Você não leu incorretamente: o procedimento utilizado pelo Estado Islâmico e que horrorizava os “ocidentais” é COMUM no Reino Unido. No dia 4 de fevereiro, o jornal BBC[4] noticiou que a Polícia de West Yorkshire divulgou que ¼ dos seus relatórios de mutilação genital feminina entre 2015 e 2017, envolvia vítimas com três anos ou idade inferior. Houve caso de bebê mutilada com apenas 1 mês de vida.

A especialista em MGF, Dra. Charlotte Proudman afirmou que era “quase impossível detectar” o procedimento, pois as meninas não estavam na escola ou não tinham condição de relatar a prática devido idade insuficiente. O crime nem sempre é denunciado por médicos e quando um profissional da saúde se encoraja a informar à polícia, alguns policiais  não sabem como proceder porque falta “protocolo” para lidar com uma questão de saúde pública gravíssima.

Charlotte Proudman declarou o seguinte:

“As pessoas estão preocupadas com as sensibilidades culturais, preocupadas em serem rotuladas como RACISTAS”.

O temor de cair na “teia  acusatória” dos movimentos em prol das minorias fez com que desde 2010, a Promotoria recebesse apenas 36 encaminhamentos de MGF pela polícia. Um relatório da Universidade de Londres emitido em 2015, estimou que 137 MIL mulheres e meninas foram vítimas de mutilação genital.

Após a sucinta exposição, questiono: como fica o “lugar de fala” das bebês e meninas que sofrem mutilação genital, visto que, em geral, as mães e avós são responsáveis pela autorização da prática? Ou seja, aquelas que teriam na concepção feminista a “legitimidade” primordial para exercer o “mecanismo de discurso” são as “culpadas” pela violação dos direitos humanos. O movimento feminista por sua vez, não se imiscui na questão para evitar “conflito indesejável e perigoso” com a “minoria” cujo “lugar de fala” é garantido pela “espada” que subjugou o “Ocidente infiel”. Daí, a gente não vê o tema em nenhuma das muitas marchas e “atos” de “pautas marcadas”.

Ayaan Irsi Ali, a refugiada “filha” da África, atacada por feminista palestina

A omissão das “feministas lacradoras” fez a “batata quente” da “luta mundial” contra a MGF parar nas mãos de uma MULHER NEGRA, “filha da África” de berço somali, Ayaan Irsi Ali[5], que venceu os traumas impostos pela pobreza e a “tradição” da família muçulmana, sendo submetida a “cliterectomia” (extirpação do clitóris) e ao “casamento forçado” com um primo muçulmano. Sabedora que nenhuma feminista lhe ajudaria para mudar o “roteiro de vida ” escrito pela “religião”, fugiu do marido em direção à Holanda, onde pediu asilo. Sem fazer uso do “discurso de vitimização” estudou Ciência Política e foi eleita deputada da Câmara Baixa do Parlamento holandês, deixando o país em 2006, após sofrer ameaça de muçulmanos em virtude de produzir o “material denunciativo” que fundamentou o curta-metragem “Submissão”, em 2004, onde era exposta a violência efetivada contra mulheres muçulmanas, notadamente, a MGF, abordando outros abusos, tais como incestos, estupros consentidos, casamentos e suicídios forçados de jovens imigrantes muçulmanas.

A sharia não perdoa os “infiéis”, e a “penalidade  cabível” foi aplicada contra o cineasta e escritor escocês que produziu o filme, Theo Van Gogh, que em novembro de 2004, teve sua garganta cortada além de ser baleado numa rua de Amsterdã por muçulmano holandês de origem marroquina. Um bilhete cravado a faca no peito do cineasta continha versos do alcorão[6] e o “aviso” de que Ayaan Irsi seria a próxima vítima.

A refugiada somali, que não obteve “garantia de segurança” na Holanda mudou-se para os Estados Unidos e deu continuidade à sua luta que passou a ser ferozmente combatida pela esquerda progressista, pois não a vê com legitimidade para exercer o seu “lugar de fala” como mulher, negra, mutilada e refugiada. Em 2011, Linda Sarsour, uma muçulmana palestina vinculada ao Partido Democrata e ao grupo terrorista Hamas, que também é diretora executiva da Associação Árabe-Americana de Nova York – e como tal, exerce ativismo para implementação da sharia nos Estados Unidos – utilizou o twitter com ofensa vulgar contra Ayaan Hirsi e a fundadora do grupo “ACT for America”, Brigitte Gabriel, escrevendo: “eu gostaria de poder arrancar fora as suas vaginas – elas não merecem ser mulheres”[7]. De maneira que, pouco importou se a ofensa se dirigia a uma mulher que sofreu a desgraça da MGF aos 5 anos.

Sarsour usou seu “lugar de fala” como “mulher” e  “ativista palestina” para determinar que Ayaan e a refugiada libanesa Brigitte não mereciam ser reconhecidas como “mulheres”, o que comprova que a esquerda traz para si a “autoridade totalitária” de definir os “papéis sociais”, ainda que ambas as “vítimas do ódio” sejam, também, “biologicamente mulheres” e defendam o “gênero feminino” das práticas misóginas do Islã.

O ataque promovido pela violenta islamista palestina que ajudou a coordenar a “Marcha das Mulheres contra Trump” – organizada e financiada pelo bilionário George Soros, em janeiro de 2017 – não foi repreendido por nenhum movimento feminista. Por que deveria, não é verdade? Para alguém ter “direito” ao “lugar de fala” deve “falar a mesma língua” da liderança do movimento. Sem essa “harmonia” configura-se um “ruído” que torna a pauta “inaudível”.

E nesse trajeto assustador de “antagonismo crônico” reproduzido por suas “falas desconexas e dissimuladas” sem suporte fático, o movimento feminista está fadado a chegar a “lugar nenhum”.

Viva as mulheres alforriadas do sistema opressor feminista!

Andréa Fernandes é jornalista, advogada, internacionalista e Presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires.

Imagem abc net

[1] https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/01/15/O-que-%C3%A9-%E2%80%98lugar-de-fala%E2%80%99-e-como-ele-%C3%A9-aplicado-no-debate-p%C3%BAblico

[2] https://nacoesunidas.org/onu-68-milhoes-de-mulheres-e-meninas-poderao-sofrer-mutilacao-genital-ate-2030/

[3] https://globalnews.ca/news/3602227/female-genital-mutilation-canada-border-officers-warned/

[4] https://www.bbc.com/news/uk-47076043

[5] http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/381/entrevistados/ayaan_hirsi_ali_2008.htm

[6] https://www.nytimes.com/2004/11/03/world/europe/dutch-filmmaker-an-islam-critic-is-killed.html

[7] http://infielatento.blogspot.com/2017/01/marcha-das-mulheres-contra-Trump-promove-Sharia.html