Outro ataque violento contra judeus ocorreu em Berlim (Alemanha), na noite de sábado na estação Bahnhof Zoo, de acordo com o jornal Bild.
O jornal relatou: “Um incidente repugnante, brutal e antissemita ocorreu no Zoológico de Bahnhof na noite passada. As vítimas: três jovens judeus. Os perpetradores: três jovens árabes. Eles disseram, entre outras coisas: ‘Esta é a nossa cidade, o nosso recinto. Se eu ver vocês de novo, vou cortar suas gargantas.‘”
Uma amiga dos jovens judeus, que também estava na plataforma, queria mediar, mas os árabes lhe disseram: “Por que você abre a boca como mulher? Por que você está protegendo esses judeus”?
As vítimas foram levemente feridas por golpes e chutes, de acordo com a matéria do jornal.
“Estudante judeu sai de escola de Berlim por ameaças e violência de colegas de classe muçulmanos”, de Simon Kent, Breitbart , 28 de maio de 2017:
Espancamentos e abusos de colegas de classe muçulmanos foram citados pelos pais de um adolescente judeu como o motivo pelo qual o retiraram de uma escola principal de Berlim.
O menino de 14 anos nasceu em Londres de uma mãe britânica e um pai alemão. De acordo com um relatório no Sunday Times , o estudante foi expulso e recebeu soco de alunos do Oriente Médio e origem turca tantas vezes, que ficou temendo por sua vida. Um dos agressores alegadamente ameaçou matá-lo com uma arma simulada que ele acreditava ser real.
O Conselho Central de Judeus na Alemanha descreveu as alegações de bullying na Friedenauer Gemeinschaftsschule em Berlim como “anti-semitismo da forma mais horrorosa”.
The Times informa Ferdinand e seus pais – Gemma, um empresário de Londres, e Wenzel, uma ativista de direitos humanos – escolheram um ambiente multicultural para o ensino de seus filhos. Até recentemente, a família tinha hospedado um refugiado sírio na casa de Berlim.
“Eu amei o fato de que a escola era multicultural. . . Os filhos e os professores eram tão legais “, disse Ferdinand.
No entanto, dentro de uma semana de inscrição em novembro passado, em uma escola onde quase três quartos dos alunos são de famílias imigrantes, os problemas de Ferdinand começaram depois que ele deixou escapar que ele era judeu.
“Primeiro, meu amigo turco, Emre, disse que não poderia mais sair comigo porque eu era judeu”, disse Ferdinand. “Então outros alunos começaram a dizer coisas estereotipadas sobre como os judeus só querem dinheiro e odeiam muçulmanos”.
As surras diárias por uma gangue de alunos, todos de origem imigrante, logo seguiram. Estes foram acompanhados de insultos raciais.
“Este menino, Jassin, cujos pais são palestinos, me perguntou se eu sou de Israel”, disse Ferdinand. “Eu nunca estive em Israel. Ele disse que a Palestina vai queimar Israel e seus amigos disseram que o Peru queimará Israel. Ele continuou me chutando.
“Um dia ele veio até mim por trás e ele me deu um soco na parte de trás. Fiquei tonto. . . Eu tive uma hematoma por uma semana ou duas. Toda vez que algo de ruim acontecia, eu disse a mim mesmo que eu poderia gerenciá-lo, mas isso só piorou “.
A experiência de Ferdinand não é um incidente isolado no sistema escolar de Berlim.
Aaron Eckstaedt, diretor da Escola Secundária Judaica Moses Mendelssohn em Berlim, disse à Jewish Chronicle que seis a 10 pais judeus se candidataram para mudar seus filhos de escola todos os anos.
Os pedidos são geralmente “em reação a declarações antissemitas vindas esmagadoramente de colegas árabes ou turcos”, disse ele.
Ele “pegou uma arma imediatamente” e atirou, disse Minniti. O policial Cristian Movio ficou ferido no ombro e não corre risco de morte. Seu colega, Luca Scata, que está na polícia há nove meses, foi quem disparou contra Amri, matando-o.
Segundo as autoridades italianas, as digitais do homem morto correspondem às colhidas dentro do caminhão usado no ataque ao mercado de Natal em Berlim na segunda-feira.
A agência de notícias Ansa informou que Amri teria viajado até à França e, uma vez, pego para Turim e depois embarcado em outra composição para Milão.
Image copyrightPOLIZIA DI STATOImage captionPolicial italiano ficou ferido no ombro durante abordagem do suspeito
Desde o atentado, uma megaoperação policial estava em curso nos países europeus que fazem parte do chamado Espaço Schengen, zona de livre circulação que abrange grande parte da União Europeia, além de Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
O atentado ocorreu na noite de segunda-feira e deixou 12 mortos e 49 feridos, 18 deles em estado grave.
Abaixo, algumas perguntas e respostas sobre o atentado:
1. Quem é o suspeito?
O suspeito do ataque em Berlim foi identificado como o tunisiano Anis Amri, de 24 anos ─ o visto de residência dele foi encontrado na cabine do caminhão.
Image copyrightAP PHOTO/DANIELE BENNATIImage captionSuspeito foi morto pela polícia após tiroteio na madrugada em Milão
Ele havia sido preso na Itália por vandalismo e roubo em 2011 e tinha um comportamento violento enquanto estava atrás das grades. Depois de solto, foi exigido que ele deixasse o país.
Fontes na Justiça alemã afirmaram que Amri, que teria entrado no país no ano passado, chegou a ser monitorado em Berlim entre março e setembro por suspeita de planejar um roubo para pagar por armas automáticas que usaria em um ataque. Mas o monitoramento teria sido suspenso por falta de provas.
A imprensa alemã informou que Amri solicitou asilo na Alemanha em abril deste ano e recebeu uma permissão de permanência temporária. O pedido acabou sendo rejeitado, mas não foi possível deportá-lo para a Tunísia, porque ele não tinha documentos de identificação válidos.
Amri também seria conhecido por usar seis nomes falsos e tentado se passar como egípcio ou libanês. De acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung, o suspeito faria parte do círculo de um clérigo islâmico radical, Ahmad Abdelazziz A., conhecido como Abu Walaa, que foi preso em novembro.
Câmera em painel de táxi flagra momento de ataque com caminhão em Berlim
Um alerta sobre Amri foi emitido na quarta-feira após seus documentos de imigração terem sido achados dentro da cabine do caminhão.
Seu irmão, Abdelkader Amri, que vive na Tunísia, afirmou à agência de notícias AFP não ter acreditado quando viu o rosto dele no noticiário. “Estou em choque e não posso acreditar que ele cometeu esse crime. Se ele for culpado, merece pagar por isso.”
O pai de Amri e forças de segurança afirmaram a uma rádio da Tunísia que o suspeito deixou há sete anos o país, onde também havia sido condenado a cinco anos de prisão à revelia na Tunísia por suposto roubo agravado com violência.
Na terça-feira, a polícia soltou o único suspeito até então ─ que, segundo a imprensa local, seria um paquistanês de 23 anos identificado como Naved B.
Ele havia solicitado refúgio no país no ano passado. Segundo autoridades, não havia provas concretas contra ele.
2. O que aconteceu?
Por volta das 20h15 (horário local) de segunda-feira, um caminhão avançou contra o público em um dos mais movimentados mercados de Natal de Berlim, em Breitscheidplatz, perto do boulevard Kurfürstendamm, a principal rua comercial do centro da cidade.
Image copyrightMICHELE TANTUSSIImage captionPessoas deixaram flores no mercado de Natal em que 12 pessoas foram mortas pelo caminhão
O local fica ao lado da ruína da igreja Kaiser Wilhelm, que foi bombardeada durante a 2ª Guerra Mundial e preservada como um símbolo dos horrores do conflito.
O caminhão de 25 toneladas carregava vigas de aço e teria arrastado tudo o que cruzou pela frente por cerca de 50 a 80 metros.
3. Como o autor do atentado conseguiu tomar o controle do caminhão?
A polícia acredita que Amri sequestrou o caminhão na tarde de segunda-feira dentro de uma zona industrial no noroeste de Berlim.
O motorista do caminhão, identificado como o polonês Lukasz Urban, parou ali depois de uma entrega ter sido adiada.
Dados do GPS do veículo mostram pequenos movimentos, “como se alguém estivesse aprendendo a dirigi-lo”, antes de deixar a área às 19h40 (hora local), em direção ao mercado de Natal.
O corpo de Urban foi encontrado no banco do carona com tiros e ferimentos a faca. Investigadores citados pela imprensa alemã dizem que o motorista lutou com o agressor pelo comando do volante.
Um deles afirmou ao tabloide Bild que a necropsia parece revelar que Urban sobreviveu às facadas, mas foi morto a tiros quando o caminhão parou. Nenhuma arma foi achada no local.
O procurador federal alemão Peter Frank disse que o foco da investigação agora é estabelecer se Amri tinha uma rede de apoio que o ajudou a executar seu plano e fugir.
Os investigadores também estão tentando verificar se a arma usada no confronto em Milão é a mesma empregada para matar o motorista polonês.
4. Alguém reivindicou a autoria do atentado?
Sim, o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI). Segundo a organização jihadista, um de seus “soldados” realizou o ataque “em resposta às convocações para atingir cidadãos dos países que fazem parte da coalizão” que combate o EI.
Image copyrightMOHAMED MESSARAImage captionNour Al Houda segura foto de filho, Anis Amri, suspeito de dirigir caminhão que matou 12 pessoas em Berlim
O EI controla partes dos territórios da Síria e do Iraque. No entanto, o grupo não deu provas nem identificou o autor do atentado.
Mas o procurador Peter Frank afirmou a jornalistas que o estilo do ataque e a escolha do alvo sugerem relação com o extremismo islâmico.
5. Foi o primeiro ataque do tipo?
Esse é o quinto ataque na Alemanha neste ano ─ os quatro primeiros ocorreram ao longo de apenas uma semana em julho passado.
No dia 18 daquele mês, um adolescente afegão refugiado no país atacou um trem, deixando cinco feridos antes de ser morto. Quatro dias depois, um adolescente alemão descendente de iranianos matou nove pessoas a tiros em Munique antes de se suicidar.
No dia 24, um refugiado sírio de 21 anos matou uma mulher com uma machadinha e deixou cinco feridos antes de fugir e ser preso. Algumas horas depois, um sírio de 27 anos – que teve de pedido de asilo negado – explodiu a si mesmo do lado de um bar. Quinze pessoas se feriram.
Serviços de segurança afirmaram que os ataques não tinham ligação entre si e que não é possível dizer que o ataque do dia 22 daquele mês foi um ato terrorista, já que motivações políticas foram descartadas.
O incidente de segunda-feira em Berlim evocou lembranças do ataque com um caminhão no Dia da Bastilha em Nice, na França, em 14 de julho, quando 86 pessoas foram mortas. Na época, o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico também reivindicou a autoria do atentado.
Tanto o EI quanto a Al-Qaeda tinham instruído seus seguidores publicamente a usarem caminhões em ataques contra multidões.
6. Como tem sido a política da Alemanha com os refugiados?
A tensão vem aumentando desde os ataques cometidos em julho. Existe a preocupação de que ao alto influxo de refugiados pode permitir a entrada de combatentes extremistas.
Image copyrightEPAImage captionCaminhão avançou sobre pessoas que estavam em um mercado de Natal no boulevard Kurfürstendamm, um dos mais movimentados de Berlim
A chanceler Angela Merkel disse estar “em choque e muito triste”, mas acrescentou: “Não queremos viver com medo do mal, senão os inimigos da liberdade já terão vencido”.
Autoridades disseram que o ataque a um mercado de Natal é “simbólico”, mas afirmaram ser impossível transformar esses locais em “fortalezas” para protegê-los de novas ações do gênero.
O Ministério Público afirmou ainda não ser possível prevenir todo e qualquer tipo de ataque e que se deve esperar por ações semelhantes no futuro.
Merkel afirmou que seria “especialmente repugnante” se o autor do ataque fosse uma pessoa “que pediu proteção e refúgio à Alemanha” e prometeu aplicar “as penas mais duras permitidas pela lei” para punir os responsáveis.
A chanceler instituiu no país uma política de abertura para imigrantes. No ano passado, 890 mil refugiados em busca de asilo chegaram à Alemanha. Críticos à medida disseram que ela era um risco à segurança.
Marcus Pretzell, membro do partido populista de direita AfD, que defende políticas anti-imigração, culpou Merkel e sua política pelo ataque.
Por sua vez, Horst Seehofer, líder do CSU, partido-irmão da legenda de Merkel na Baviera, pediu que a chanceler “repense e mude sua política de imigração e segurança” após o ocorrido na segunda-feira.
BERLIM — Com o primeiro albergue para refugiados homossexuais, inaugurado ontem, Berlim fortalece a sua imagem de tolerância, desde os anos de 1920. O novo abrigo fica em um prédio de seis andares, com 29 pequenos apartamentos e capacidade para receber 124 pessoas. Mas o lar dos fugitivos gays, que fica no bairro de Treptow, na antiga parte Leste da cidade, recebeu no primeiro dia de funcionamento apenas 20 pessoas, 19 homens e uma mulher.
Dilek Kalat, secretária municipal de integração, revelou que a Prefeitura planeja instalar novos abrigos com o objetivo de garantir a segurança de gays e lésbicas, que sofrem preconceito na via-crúcis da fuga das guerras civis do Oriente Médio para a Europa.
— Eu fugi da guerra civil, do Estado Islâmico mas também da minha própria família — afirmou Hassan, de 24 anos, um dos moradores do novo abrigo.
Para o refugiado sírio, as “minorias das minorias”, como os fugitivos gays ou cristãos, continuam sendo perseguidos, mesmo depois de atingir um lugar seguro na Europa.
Na Síria, ele se via ameaçado pela própria família — os pais preferiam ver o filho morto a ser gay. Mas, mesmo depois de conseguir asilo em Berlim, o clima de medo persistiu. Os abrigos de refugiados são diariamente palco de agressão contra as “minorias das minorias”. Alguns, como o instalado no antigo aeroporto de Tempelhof em Berlim, alojam mais de duas mil pessoas
— Nesses grandes abrigos, os homossexuais não podem mesmo se sentir seguros porque há entre os refugiados um clima de grande intolerância — afirma Marcel de Groot, da ONG Ajuda aos Homossexuais.
Groot disse que houve na maioria dos países um grande retrocesso depois da Primavera Árabe:
— A situação para os gays ficou muito mais difícil nas regiões dominadas pelo Estado Islâmico, onde o “delito” de ser gay é passível de decapitação. Além disso, não houve melhora também no que se refere à democracia.
Mahmoud Hassino, de 40 anos, deixou a Síria em 2012. Depois de uma odisseia por vários países, chegou a Berlim dois anos mais tarde.
— Pouco tempo depois de chegar, vi logo que não era possível a convivência com outros muçulmanos nos abrigos coletivos — lembra Mahmoud, que hoje ajuda na ONG como tradutor.
Segundo ele, o clima de intolerância no mundo árabe “tornou-se insuportável”.
Mas a ideia de separar as minorias do resto dos refugiados é controversa. A chefia de polícia de Berlim advertiu contra a instalação de um abrigo especial para gays.
— Esses abrigos correm o risco de ser alvos de atentados — afirmou um porta voz da polícia.
Assim mesmo, Nuremberg já conta com um albergue para fugitivos gays desde o inicio do mês, e Munique, no mesmo estado da Baviera, planeja residências especiais para fugitivos gays e também para convertidos ao cristianismo, outro grupo que é alvo de agressões.
O novo abrigo de Berlim, que fica no bairro de Treptow, na antiga parte Leste da capital alemã, tem um forte sistema de vigilância. Depois dos últimos atentados contra albergues de fugitivos no estado da Saxônia, as autoridades aumentaram o nível de segurança nas residências de refugiados em todo o Leste alemão, que é a parte do país mais afetada pela xenofobia.
Para Marcel de Groot, muitos gays árabes que fogem para a Europa têm como destino Berlim por causa da tradição de tolerância que tem a cidade.
Cortes de orçamento e crescimento da população afetam recursos da capital.
BERLIM, Alemanha — Em um trecho de calçada da capital alemã, famílias de imigrantes se amontoam sobre os cobertores, todas de olho em um portão alto de metal. Atendentes de colete amarelo vivo distribuem copos de chá para espantar o frio. Além do portão, no pátio de um complexo de prédios imponentes de um bairro badalado, está a versão alemã de Ellis Island, nos EUA, um posto de checagem para centenas de recém-chegados que se reúnem antes do raiar do dia para entregar seus pedidos de asilo. Muitos esperam mais de oito horas, diariamente, só para serem informados de que terão que retornar no dia seguinte.
“Sempre dizem ‘amanhã'”, lamenta Ezzat Aswam, 33 anos, de pé, no frio da madrugada, ao lado da filha de seis anos e do filho de oito. A família chegou à Alemanha há quatro meses.
O pátio também se tornou o símbolo da luta do país para impor alguma ordem na onda tumultuada de gente que chega às suas fronteiras diariamente: foram 758 mil nos dez primeiros meses, sendo 181 mil só em outubro.
Em uma nação conhecida pela eficiência, a experiência de passar pela Agência Nacional de Saúde e Bem-Estar Social, conhecida pela sigla em alemão LAGESO, pode ser, no mínimo, surpreendente. Muitos imigrantes arriscaram a vida para chegar até aqui e, de repente, se veem tendo que esperar atrás de barras de ferro, em um pátio de terra, por um número que o levará para uma nova fila.
A cena vai de caótica a perigosa. Há pouco tempo, cerca de duas horas antes de o centro abrir, uma ambulância teve que abrir caminho entre as dezenas de estrangeiros que se protegiam da friagem como podiam porque um homem tinha desmaiado e não se sabe se de frio ou de cansaço.
Policiais foram arregimentados para dar apoio aos seguranças depois que vários imigrantes se machucaram tentando entrar à força. E os boatos de que eles aceitam propina pipocam com insistência.
E foi daqui que um garotinho de quatro anos, da Bósnia, desapareceu em outubro – levado, segundo as autoridades, por um homem que confessou tê-lo sequestrado e matado. O menino e sua família, aliás, não estavam entre os milhares de imigrantes que chegaram à Europa nos últimos meses; aguardavam o resultado dos requerimentos que tinham preenchido há dois anos. Agora é dada como certa sua permanência.
“Caramba, estamos falando da Alemanha. Os caras têm um sistema para tudo. Tem que ter um jeito mais fácil”, diz Yazan Smair, estudante de 31 anos que fugiu da Síria há vários meses e conseguiu visto para ficar no país. Hoje é intérprete voluntário na porta do centro.
A verdade é que, mais especificamente, estamos falando de Berlim, onde os cortes de orçamento e o crescimento da população já afetavam os recursos desde muito antes da chegada dos imigrantes do Afeganistão, Síria e outros lugares. O ex-prefeito Klaus Wowereit, querendo atrair os tipos mais criativos, descreve a cidade como “pobre, mas sexy”, o que não quer dizer muita coisa pela experiência dos estrangeiros.
Em outubro, o atual prefeito, Michael Mueller, tentou convencer os moradores de que a capital era financeiramente estável a ponto de suprir as necessidades de todos.
“Temos muitos problemas sociais na cidade, não posso negar. Há desemprego, há sem-teto, mas contamos também com vários serviços sociais para ajudar quem precisa. Isso é muito importante para mim”, afirmou ele na rádio estatal RBB.
Só que o cenário na agência mostra uma cidade que está no limite, se não sobrecarregada.
Aqueles que melhor conhecem a situação – os voluntários que doam seu tempo e energia para alimentar, vestir e aconselhar os recém-chegados – temem que a Prefeitura não consiga lhes garantir o bem-estar.
“Temos que trabalhar muito, e rápido, senão vamos começar a ver o pessoal morrendo de frio”, explica Victoria Baxter, da Moabit Hilft, organização formada em meados do ano para ajudar os estrangeiros que eram largados horas a fio nas filas, sem água, nem comida suficientes.
O papel de Berlim como cidade-refúgio dominou grande parte de sua história pós-guerra: a porção ocidental serviu como tábua de salvação em plena Alemanha Oriental para os que fugiam do comunismo, principalmente nos anos 60; para os tâmeis que fugiam da guerra civil no Sri Lanka, na década de 80, e para os pacifistas da Alemanha Ocidental que queriam evitar o serviço militar obrigatório.
Só que a Europa não via uma onda migratória dessa magnitude desde a Segunda Guerra Mundial. Em Berlim, cidade com 3,5 milhões, mais de 62 mil chegaram em busca de segurança este ano.
Em agosto, a cidade reservou 3 milhões de euros (US$3,2 milhões) para a integração dos refugiados, o que inclui verba para aulas de alemão, transporte e serviços médicos, além da contratação e treinamento de mais pessoas para o processo de triagem.
O antigo prédio de um banco estatal foi reformado e transformado em um centro de registro integrado, inaugurado em outubro. Ali, os estrangeiros podem dar entrada no pedido de visto, passar por exames médicos e, eventualmente, já falar com o pessoal da Secretaria do Trabalho sobre possíveis vagas.
As autoridades municipais dizem que o novo sistema permite o processamento de até 700 registros/dia, em comparação com pouco menos da metade desse número em meados do ano, quando o volume começou a crescer.
“O processo de seleção está funcionando com força total; tomamos medidas essenciais para melhorá-lo”, garante Mario Czaja, responsável pela saúde e serviços sociais da cidade, na Radio Eins, que é estatal.
Entretanto, quem quer dar entrada no pedido de asilo ou garantir benefícios sociais, ainda tem que passar pelo pátio para dar início ao processo. Só os que estão chegando agora, de meados de outubro até hoje, estão qualificados para se beneficiar do novo sistema, deixando um acúmulo de milhares de pessoas, como Aswam e sua família, esperando nas instalações antigas.
Em novembro, o departamento instituiu novas regras para tentar acabar com a aglomeração na porta do centro, incluindo a permissão para que uma única pessoa registrasse a família inteira e a priorização daqueles que estavam à espera há mais tempo.
O afegão Toryalay Jamshidi, de 18 anos, conta que esperou cinco dias e noites para adquirir a pulseira de plástico cinza necessária para embarcar no ônibus para o novo centro de processamento. E diz que, durante a espera, alternou entre dormir na rua e em um quartinho.
Como as temperaturas caíram abaixo de zero, às mulheres e crianças foi permitido aguardar nas barracas aquecidas, mas os voluntários ainda temem que muita gente fique de fora, sem ter onde dormir.
Olivia Mandeau há meses é voluntária no turno da noite e ajuda a distribuir cobertores e roupas quentes, além de organizar abrigo emergencial para os que estão na rua.
“Em nenhum outro lugar da Alemanha há esse problema; todas as outras cidades dão um jeito de arrumar um cantinho para o pessoal”, lamenta ela.
“A crise não é de refugiados, mas sim da administração”, conclui.
Autoridades alemãs dizem que se trata de uma estimativa das autoridades no terreno, em particular da polícia.
O governo alemão calcula que 30% das pessoas que se dizem sírias no registo para a obtenção do estatuto de refugiado na Alemanha têm outras nacionalidades, indicou hoje um porta-voz do Ministério do Interior.
“Não se trata de uma estatística, mas de uma estimativa que se baseia no que constatam as autoridades no terreno, em particular a polícia e (…) Frontex”, a agência encarregada da vigilância das fronteiras da União Europeia (UE), disse Tobias Plate num encontro com a imprensa.
A Alemanha enfrenta um afluxo sem precedentes de requerentes de asilo, em particular depois de ter decidido deixar de reenviar os sírios para os países em que entraram na UE, como prevê a legislação europeia. Os originários da Síria beneficiam ainda de uma análise mais rápida do seu dossier.
O país espera entre 800 mil e um milhão de requerentes de asilo este ano, um recorde absoluto, contra 200 mil em 2014.
Entre janeiro e fim de julho, 256 938 pessoas apresentaram um pedido de asilo à Alemanha, das quais 55 587 se declararam originárias da Síria.