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Memorial do Holocausto acusa ativista de “difamação” por denunciar monitora que banalizou o Holocausto

Diretor se revoltou com a postura da presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires (EVM) ao denunciar a escritora Maura Palumbo por afirmar em jornais que o “Brasil é um campo de concentração a céu aberto”

Na noite de sexta-feira(29), a advogada Andréa Fernandes, presidente da ONG Ecoando a Voz dos Mártires, tomou conhecimento da manifestação do Diretor Educativo do Memorial do Holocausto, Reuven Faingold, acusando-a de promover “ofensas” e “difamações” contra a entidade por ter denunciado a “relativização do Holocausto” promovida por sua monitora Maura Palumbo em dois jornais.

A presidente da ONG EVM vinha fazendo postagens denunciando a monitora do Memorial do Holocausto, Maura Palumbo, pelas entrevistas concedidas ao jornal ‘O Globo’[1] e Tribuna da Bahia[2] defendendo a tese de que “o Brasil é um campo de concentração” devido as mazelas sociais existentes no país, o que é considerado um acinte à memória das vítimas do Holocausto, já que além de não haver qualquer “política de estado” no país instaurando campos de concentração, os contextos de sofrimento dos brasileiros em função da ineficiência de políticas públicas e o desespero das vítimas de “eliminação sistemática” perpetradas por um regime ideológico genocida são completamente incomparáveis.

O primeiro artigo denunciativo foi postado no dia 24 de setembro com o título Como pode uma monitora do Memorial do Holocausto chamar o Brasil de campo de concentração aberto?Na ocasião, Andréa Fernandes alertou para a fala extremista da monitora em alguns momentos da entrevista ao jornal ‘O Globo‘, quando afirmou, por exemplo, que o “nazismo persiste” e que o “desejo de extermínio é muito evidente”, especulando nós vivemos isso aqui. A tese central da monitora, que também é escritora foi externada da seguinte maneira: EU CHAMO O PAÍS DE CAMPO DE CONCENTRAÇÃO ABERTO PORQUE TEMOS TODOS OS INGREDIENTES: A MISÉRIA, A FALTA DE CULTURA, DE ASSISTÊNCIA, DE SAÚDE, PESSOAS NO COMANDO NOS MANIPULANDO.

Nesse artigo, que também foi postado na página oficial da entidade, o único momento em que a advogada se refere ao Memorial do Holocausto o faz com respeito e consideração aos profissionais da instituição frisando:

Termino minhas considerações abismada com o fato da autora em questão exercer MONITORIA no Memorial do Holocausto, em São Paulo. Conheço a instituição e sei que é integrada por especialistas no tema e jamais imaginei que aceitariam ter em seus quadros, uma autora-militante que vergonhosamente relativiza conceitos centrais do Holocausto, o que acaba inconscientemente banalizando as atrocidades ocorridas a partir do momento que o brasileiro que pouco ou nada sabe sobre o Holocausto ouve “senso comum”  afirmar que aqui temos “campos de concentração”, o que, na melhor das hipóteses, é um total DESRESPEITO à memória das vítimas da barbárie que perderam suas vidas naquelas “fábricas de morte em série”.

Apesar de tentar entrar em contato com a diretor geral da entidade, a advogada não teve êxito, só conseguindo o e-mail de um dos diretores após conclamar seus seguidores nas redes em razão do descaso do(s) administrador(es) da página da instituição que não atenderam seu pedido. Estranhamente, mesmo sabedor da denúncia da presidente da ONG EVM, ao visitar a página da instituição,  Reuven se manteve silente.

A segunda manifestação que envolveu a entidade foi uma postagem com o print retirado da página de Maura Palumbo com o teor completo da entrevista ao jornal “Tribuna da Bahia” intitulado “Até quando o Memorial do Holocausto/SP vai manter como ‘monitora’ uma escritora que afirma em jornais que o Brasil tem campos de concentração? Isso é afronta à memória das vítimas do Holocausto”. A advogada cobra posicionamento da entidade salientando:

Logo, considerando as AÇÕES GRAVES e INACEITÁVEIS por serem explicitadas por uma suposta “especialista” que palestra pelo Brasil, CABE ação urgente da CONIB e demais entidades representativas da comunidade judaica para pressionar o MEMORIAL DO HOLOCAUSTO a PROMOVER O DESLIGAMENTO IMEDIATO DESSA SENHORA DE QUALQUER ATIVIDADE VINCULADA À INSTITUIÇÃO, INCLUSIVE, A MONITORIA, BEM COMO REFUTAR PUBLICAMENTE o “discurso político-ideológico” da militante travestida de escritora relativizando a barbárie do Holocausto, E EXIGIR A RETRATAÇÃO PÚBLICA NOS MESMOS JORNAIS onde Maura Palumbo proferiu tais aberrações, retratação esta, que deve ser exposta também na página da referida senhora.

E também:

Na oportunidade, informo que, em não havendo o posicionamento público do Memorial acerca da conduta ora relatada, após o recebimento do requerimento que será encaminhado pela ONG Ecoando a Voz dos Mártires, FORMALIZAR-SE-Á REQUERIMENTO JUNTO À EMBAIXADA DE ISRAEL e AO CONSULADO comunicando as ações desrespeitosas!

Devo lembrar que, a consubstanciação de DESAGRAVO é INDISPENSÁVEL para que se efetive lídima JUSTIÇA com todas as vítimas do Holocausto, inclusive, as não-judias. Assim, CONTO com todas os amigos judeus que se solidarizam com essa causa humanitária a fim de se mobilizarem para que a CONIB também venha agir nesse vergonhoso caso objetivando rápida solução.

Como se vê, nenhuma “difamação” ou “ofensa” direcionada à entidade. A advogada apenas denunciou a entrevista da monitora Palumbo e reivindicou posicionamento público da entidade devido vínculo inegável que mantém com a entrevistada.

Além de Boris Przechacki, filho de sobrevivente do Holocausto, muitos outros judeus também se manifestaram contrariados com a postura da monitora e do próprio Memorial por evitar manifestação sobre a denúncia. A jornalista e pesquisadora Blima Lorber disse que o caso revelava “banalização do Holocausto” e o também historiador e jornalista José Roitberg escreveu um artigo em seu Facebook intitulado “Vamos tratar de Maura Palumbo e dos campos de concentração que ela afirma existirem no Brasil”, reconhecendo a importância da denúncia de Andréa Fernandes, que também é jornalista. Em seu posicionamento Roitberg afirmou em alguns parágrafos:

Eu não faço ideia se Maura Palumbo, uma advogada, empresária e escritora de SP, com 55 anos de idade, portanto da minha geração, é formada para ensino sobre a história do Holocausto pelo Yad Vashem ou não. Eu sou. Portanto possuo um autoridade formal e documental para critica-la.

Com todo o estudo que Palumbo fez sobre o Holocausto parece não ter compreendido o que se passou. E isto é estranho para mim.

Um campo de concentração é um o local para onde as pessoas (não só os judeus) foram enviados a força das armas pelos nazistas. As características básicas de um campo de concentração são: (1) nenhum direito civil, (2) gente definida na chegada para ser rapidamente assassinada e gente definida na chegada para trabalho escravo, (3) alimentação com menos de 800 kcal diárias, (4) nenhuma possibilidade de higiene, (5) nenhum tipo de atendimento médico ou remédios, (5) trabalho escravo até a morte por exaustão, (6) soldados armados em torres de vigia com permissão de atirar nos prisioneiros quando bem entendessem, (7) espancamentos até a morte de prisioneiros por diversão dos guardas, (8) expectativa dos nazistas de que fome, doença, exaustão, calor ou frio, matassem os prisioneiros da forma mais barata possível, (9) cercas eletrificadas para tornar a fuga impossível ou permitir o suicídio dos prisioneiros, (10) o odor constante da carne queimada dos judeus mortos e executados, entre outras coisa mais.

Contudo, apesar de ter se manifestado clarividente o teor da denúncia da presidente da ONG EVM com a demonstração explícita de indignação VÁRIOS JUDEUS e PESQUISADORES, o Diretor Educativo do Memorial do Holocausto desconsiderou todas as provas apresentadas e se dirigiu à advogada numa postagem antiga da mesma na página da entidade que não tinha relação alguma com a denúncia formulada. Em suas considerações, Reuven expõe sua titulação acadêmica frisando que é professor PHD da Universidade Hebraica de Jerusalém e pesquisador há mais de quatro décadas além de estudar com “rigor científico” o tema do Holocausto do povo judeu, “convidando” a advogada “a ler uma parte pequena de sua produção acadêmica na internet”, muito embora as “indumentárias intelectuais” ou o “saber” do diretor educativo da entidade não tenham sido o foco da denúncia.

Reuven afirmou que estava acompanhando nos últimos dias as postagens da advogada e a acusou de “utilizar linguagem agressiva com ofensas e difamações contra o Memorial do Holocausto” e que teria “atacado verbalmente” a monitora Maura Palumbo, que segundo ele, “realiza um belo trabalho educativo”.

Em 43 linhas, Reuven não se manifestou sobre o teor das denúncias divulgadas pela ONG e ainda utilizou FALÁCIA DE ESPANTALHO ao afirmar:

Na entrevista publicada no jornal “O Globo” se explica a precariedade da estrutura do Brasil, próxima à realidade de um campo durante a 2ª Guerra. Ninguém afirma que em nosso Brasil se assassinou sistematicamente como Hitler fez deportando milhares de opositores aos campos”.

Porém, em momento algum, a advogada externou a colocação irreal aduzida pelo diretor, já que se fundamentou apenas nas FALAS LITERAIS da monitora reproduzidas nos jornais, e seu objetivo visava posicionamento público sobre as referidas falas. O diretor ainda afirmou: “receba esta mensagem como posicionamento oficial do “Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto”.

Todavia, como o “posicionamento oficial” da entidade não respondeu ao conclame da ONG Ecoando a Voz dos Mártires, sendo um conglomerado de tergiversações, a advogada respondeu às alegações de forma pormenorizada anunciando que comparecerá pessoalmente à entidade para dialogar e ingressar com REQUERIMENTO ESCRITO, e solicitou, para tanto, o NOME do DIRETOR-GERAL do Memorial responsável por responder pelas demandas externas da entidade.

Outrossim, dadas as sérias acusações dirigidas à sua pessoa exercendo o ofício de ativista de direitos humanos, a advogada solicitou, também, que Reuven apresente as postagens comprobatórias que indicam que teria perpetrado as supostas OFENSAS e DIFAMAÇÕES, contra a entidade, lembrando que “difamação” é uma figura típica penal prevista como CRIME CONTRA A HONRA, pelo que, em não havendo a comprovação das GRAVES ACUSAÇÕES, haverá formalização do pleito de RETRATAÇÃO por ser maculada a honra da presidente da ONG EVM na página da instituição.

[1] https://www.facebook.com/maurapalumboescritora/photos/a.307690232920205/546993785656514/?type=3&theater

[2] https://www.facebook.com/photo.php?fbid=706278959729112&set=a.136839876673026&type=3&theater

Imagem extraída da página do Memorial do Holocausto: Maura Palumbo em atividade como monitora.