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Crise de Estupros Cometidos por Migrantes na Alemanha. Onde Está a Indignação Pública?

por Soeren Kern

  • Apesar do crescimento vertiginoso de vítimas, a maioria desses crimes está sendo minimizada pelas autoridades alemãs e pela imprensa, aparentemente para evitar alimentar sentimentos anti-imigração.
  • “A polícia não está interessada em estigmatizar e sim em educar a população. A impressão de que nós estamos praticando a censura é extremamente chocante no que tange à confiança da população na polícia. Divulgar informações sobre suspeitos também é importante para o desenvolvimento de estratégias de prevenção. Temos que ter a permissão de falar abertamente sobre os problemas do país. Isso inclui falar sobre a exagerada representatividade dos jovens migrantes em nossos registros de criminalidade”. — Arnold Plickert, diretor do Sindicato de Polícia GdP, no estado do Reno, Norte da Westphalia.
  • “O Conselho de Imprensa acredita que as redações da Alemanha deveriam, em última análise, tratar seus leitores como se fossem crianças, privando-os de informações relevantes. Acreditamos que isso é um equivoco, porque quando as pessoas percebem que algo está sendo ocultado elas reagem com desconfiança. E esta desconfiança é um perigo”. − Tanit Koch, editora-chefe do Bild, o jornal de maior circulação da Alemanha.
  • Em 24 de outubro, um levantamento do YouGov constatou que 68% dos alemães acreditam que a segurança no país se deteriorou nos últimos dois ou três anos. Além disso, 68% dos entrevistados responderam que temem por suas vidas e pelos seus bens em estações de trens e metrôs na Alemanha e que 63% se sentem inseguros em grandes eventos públicos.

No norte da cidade alemã de Hamburgo foi concedido a um grupo de adolescentes sérvios a suspensão condicional da execução da pena por terem estuprado coletivamente uma menina de 14 anos de idade, largando-a à própria sorte em temperaturas abaixo de zero.

O juiz ressaltou que, embora “as penas possam parecer leves aos olhos do público”, todos os adolescentes confessaram seus atos e pareciam estar arrependidos e já não apresentavam mais perigo à sociedade.

A decisão preferida em 24 de outubro, que na prática permitiu que os estupradores permanecessem em liberdade, provocou um raro momento de indignação pública no tocante ao problema dos crimes sexuais cometidos por migrantes na Alemanha. Uma petição realizada na Internet pedia que os adolescentes cumprissem a pena na prisão, colheu mais de 80.000 assinaturas e os promotores já estão apelando da sentença.

Milhares de mulheres e crianças foram estupradas ou abusadas sexualmente na Alemanha desde que a Chanceler Angela Merkel permitiu a entrada no país de mais de um milhão de migrantes, na maioria do sexo masculino, oriundos da África, Ásia e Oriente Médio.

A crise de estupros cometidos por migrantes na Alemanha — que continua correndo solta dia após dia por mais de um ano — agora se espalhou para cidades em todos os 16 estados da federação alemã. Apesar do crescimento vertiginoso de vítimas, a maioria desses crimes ainda está sendo minimizada pelas autoridades alemãs e pela imprensa, aparentemente para evitar alimentar sentimentos anti-imigração.

O Conselho de Imprensa Alemão (Presserat) impõe um “código de ética da mídia”, politicamente correto, que restringe as informações que os jornalistas podem usar em suas matérias. Parágrafo 12.1 do código determina:

“Ao denunciar delitos penais, detalhes sobre o background religioso, étnico ou outros sobre os suspeitos ou criminosos poderão ser mencionados somente se forem inequivocamente necessários (begründeter Sachbezug) para que o acontecido possa ser informado. É bom lembrar que tais referências podem fomentar preconceitos contra as minorias”.

Em 17 de outubro, o Conselho de Imprensa advertiu a revista semanal, Junge Freiheit, por revelar a nacionalidade de três adolescentes afegãos que estupraram uma mulher em uma estação de trens em Viena, na Áustria, em abril de 2016. O Conselho de Imprensa assinalou que a nacionalidade dos perpetradores é “irrelevante” neste caso e ao publicar a denuncia o jornal “deliberada e pejorativamente retratou os suspeitos como pessoas de segunda classe”.

Em nome da “reportagem objetiva”, o Conselho exigiu que o jornal removesse a matéria ofensiva do seu site. O jornal se recusou a cumprir a determinação e ressaltou que iria continuar publicando as nacionalidades de suspeitos de terem cometido crimes.

Lutz Tillmanns, diretor executivo do Conselho de Imprensa, sustentou que a autocensura é necessária para evitar a discriminação:

“Um dos princípios fundamentais no tocante aos direitos humanos é não discriminar. Quando nos referimos a um indivíduo, não queremos prejudicar o grupo inteiro. Isto, inequivocamente, é um problema muito mais preocupante para as minorias do que para a maioria”.

Segundo Hendrik Cremer do Instituto Alemão dos Direitos Humanos, o código de ética do Conselho de Imprensa também se aplica à polícia alemã, que frequentemente censura as informações que ela divulga para a imprensa:

“A polícia não deve divulgar informações em relação a cor, religião, nacionalidade, naturalidade ou origem étnica de um suspeito à imprensa ou ao público em geral. A polícia só pode fazer esse tipo de divulgação se for imprescindível, quando for o caso, por exemplo, se ela estiver a procura de um suspeito. “

Arnold Plickert, diretor do Sindicato de Polícia GdP, no estado do Reno, Norte da Westphalia,salientou que a autocensura policial é contraproducente:

“A polícia não está interessada em estigmatizar e sim em educar a população. A impressão de que nós estamos praticando a censura é extremamente chocante no que tange à confiança da população na polícia. Divulgar informações sobre suspeitos também é importante para o desenvolvimento de estratégias de prevenção. Temos que ter a permissão de falar abertamente sobre os problemas do país. Isso inclui falar sobre a exagerada representatividade dos jovens migrantes em nossos registros de criminalidade.”

Um exemplo de como as restrições sobre a imprensa, exercidas pelo Conselho, distorcem os informes sobre crimes cometidos por migrantes pode ser encontrado no relatório de 2 de outubro concernentes ao estupro de uma idosa de 90 anos em frente a uma igreja no centro de Düsseldorf. O Hamburger Morgenpost divulgou que o agressor era um “desabrigado de 19 anos de idade” (obdachlosen 19 Jährigen). A polícia de Düsseldorf descreveu o suspeito como “europeu da região sul com raízes do norte da África”. Mais tarde o jornal Bildrevelou que, na verdade, tratava-se de um marroquino com passaporte espanhol conhecido da polícia alemã como contumaz ladrão de lojas e batedor de carteiras e bolsas.

Outro exemplo: em 30 de setembro um migrante de 28 anos de idade atacou sexualmente uma mulher de 27 anos em um trem expresso que ia de Paris para Mannheim. Inicialmente a imprensa local divulgou a nacionalidade do agressor, mas logo em seguida excluiu as informações. Em um comunicado ela deu a seguinte explicação:

“A matéria inicialmente incluía a nacionalidade do agressor. A referência foi posteriormente removida porque não correspondia às nossas diretrizes editoriais — ou seja: não há nenhuma ligação entre a nacionalidade e o ato”.

O Conselho de Imprensa Alemão rejeitou pedidos para rescindir o Parágrafo 12.1. “A regulamentação não é uma mordaça e sim meramente um norte para o comportamento eticamente adequado”, enfatizou Manfred Protze, porta-voz do Conselho.

Tanit Koch, editora-chefe do Bild, jornal de maior circulação da Alemanha, ressaltou:

“O Conselho de Imprensa acredita que as redações da Alemanha, deveriam, em última análise, tratar seus leitores como se fossem crianças, privando-os de informações relevantes. Acreditamos que isso é um equivoco, porque quando as pessoas percebem que algo está sendo ocultado, elas reagem com desconfiança. E esta desconfiança é um perigo.”

O Conselho de Imprensa sustenta que a autorregulação voluntária visa impedir o governo de regulamentar a mídia. O Conselho, que até agora limitou suas atividades com respeito à mídia impressa e Websites associados, está elaborando um “código de conduta na Internet” para regulamentar blogs, vídeos e podcasts.

A primeira denúncia divulgada pelo Gatestone Institute sobre a crise de estupros cometidos por migrantes na Alemanha foi em setembro de 2015, quando Merkel abriu a fronteira alemã para dezenas de milhares de migrantes retidos na Hungria. Um relatório de acompanhamento foi publicado em março de 2016 na esteira dos ataques em massa contra mulheres alemãs por turbas de imigrantes em Colônia, Hamburgo e outras cidades alemãs. Em agosto de 2016, o Gatestone publicou que a supressão de dados sobre estupros cometidos por migrantes é uma prática comum em toda a Alemanha.

Uma multidão enfurecida de manifestantes alemães na cidade de Colônia gritava sem parar contra a polícia, em 9 de janeiro de 2016 “onde vocês estavam na Passagem do Ano Novo?” Referindo-se aos ataques sexuais em massa perpetrados na cidade pelos migrantes na Passagem do Ano Novo, quando mais de 450 mulheres foram sexualmente atacadas em uma única noite.

A falta de posicionamento da grande mídia em denunciar a verdadeira dimensão da crise de estupros cometidos por migrantes na Alemanha pode explicar o porquê — depois de mais de um ano de ataques sexuais diários — de tamanha falta de indignação pública sobre a calamidade que se abateu sobre tantos alemães. A censura, de fato, se tornou um problema de segurança nacional.

Espaços públicos na Alemanha estão ficando cada vez mais perigosos. Os migrantes têm agredido mulheres e crianças alemãs nas praias, trilhas de bikes, cemitérios, discotecas, mercearias, festivais de música, estacionamentos, parques infantis, escolas, shopping centers, táxis, transportes públicos (ônibus, bondes, trens expressos interurbanos e metrôs), parques públicos, praças públicas, piscinas públicas e banheiros públicos. Não há mais nenhum lugar seguro.

Em 1º de outubro, dois migrantes estupraram uma mulher de 23 anos de idade em Lüneburg. Ela estava passeando com sua criança bem pequenina em um parque, quando os dois homens, que vieram por trás, as emboscaram. Os homens, que fugiram e continuam foragidos, obrigaram o filho a assisti-los se revezarem em seus ataques contra a mãe.

Em 8 de outubro, um migrante de 25 anos proveniente da Síria apalpou uma menina de 15 anos em Moers. A menina respondeu com um tapa na cara do homem. Ele chamou a polícia e se queixou que a menina tinha abusado dele. O homem foi preso por agressão sexual.

Em 18 de outubro, Sigrid Meierhofer, prefeita de Garmisch-Partenkirchen, em uma carta urgente (Brandbrief) enviada ao Governo da Baviera, ameaçou fechar um abrigo que alojava 250 migrantes, em sua maioria do sexo masculino provenientes da África, se a ordem e a segurança pública não pudessem ser restabelecidas. O conteúdo da carta, que foi vazadopara o Münchner Merkur, assinalava que a polícia local havia atendido a mais chamadas de emergência nas seis últimas semanas do que nos 12 meses anteriores.

Em 24 de outubro, um levantamento do YouGov constatou que 68% dos alemães acreditam que a segurança no país se deteriorou nos últimos dois ou três anos. Além disso, 68% dos entrevistados responderam que temem por suas vidas e pelos seus bens em estações de trens e metrôs na Alemanha e que 63% se sentem inseguros em grandes eventos públicos.

Enquanto isso, o Departamento Federal de Polícia Criminal (Bundeskriminalamt, BKA) temdado conselhos às mulheres alemãs sobre como elas devem se proteger dos estupradores: “use tênis em vez de salto alto para que você possa fugir”.

Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter.

https://pt.gatestoneinstitute.org/9252/estupros-migrantes-alemanha-indignacao

Iraquiana sequestrada pelo Estado Islâmico: ‘Fui vítima de jihad sexual’

As iraquianas Nadia Murad Basee e Lamiya Aji Bashar foram algumas das centenas de mulheres escravizadas pelo grupo autodenominado Estado Islâmico.

Uma vez libertadas, elas se tornaram porta-vozes das vítimas da campanha de violência sexual empreendida pelos extremistas.

Na semana passada, Nadia e Lamiya receberam da União Europeia o importante prêmio Sájarov à Liberdade de Consciência.

Confira abaixo a história de Nadia que a BBC Brasil publicou em março passado.

Quando integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) invadiram a aldeia de Nadia Murad no Iraque, mataram todos os homens, incluindo seis de seus irmãos.

Nadia é da minoria étnica e religiosa yazidi, considerada “infiel” pelos extremistas do EI.

Ela e centenas de outras mulheres yazidis foram sequestradas, vendidas e passadas de mão em mão por homens que as estupraram em grupo. Foram vítimas do que o EI chama de “jihad sexual”.

Nadia conseguiu fugir, mas acredita-se que milhares de mulheres continuem presas.

Nadia Murad está em Londres em campanha para chamar a atenção para seu povo.

O ataque

Em 3 de agosto de 2014, o EI atacou os yazidis em Sinjar, região no norte do Iraque próxima a uma montanha de mesmo nome. Antes disso haviam atacado locais como Tal Afar, Mosul e outras comunidades xiitas e cristãs, forçando a saída dos moradores.

“A vida em nosso vilarejo era muito feliz, muito simples. Como em outros vilarejos, as pessoas não viviam em palácios. Nossas casas eram simples, de barro, mas levávamos uma vida feliz, sem problemas. Não incomodávamos os outros e tínhamos boas relações com todos”, contou Nadia ao programa HARDtalk da BBC.

Nesse dia, diz ela, 3 mil homens, idosos, crianças e deficientes foram massacrados pelo EI.

Alguns conseguiram fugir e se refugiar no monte Sinjar, mas a aldeia estava longe da montanha e o EI cercou as saídas.

Perseguidos pelo EI, os yazidis reverenciam a Bíblia e o Alcorão, mas grande parte de sua tradição é oral

“Rodearam a aldeia por alguns dias mas não entraram. Tentamos pedir ajuda por telefone e outros meios. Sabíamos que algo horrível iria acontecer. Mas a ajuda não chegou, nem do Iraque nem de outras partes.”

Depois de alguns dias, o EI encurralou os moradores na escola da aldeia e ali seus militantes mantiveram homens, mulheres e crianças.

“Deram-nos duas opções: a conversão ao Islã ou a morte”, disse Nadia.

Nadia Murad Basee no Conselho Europeu em EstrasburgoImage copyrightEPA
Image captionUma vez libertada, Nadia Murad ganhou refúgio na Alemanha

Assassinatos, sequestros e estupros

Logo separaram os homens, cerca de 700. Levaram todos para fora da aldeia e começaram a baleá-los. Nove irmãos de Nadia estavam entre eles.

Seis dos irmãos de Nadia morreram ─ três ficaram feridos mas escaparam.

“Da janela da escola podíamos ver os homens sendo baleados. Não vi meus irmãos sendo atingidos. Até hoje não pude voltar à aldeia nem ao local da matança. Não há notícias de nenhum dos homens.”

Segundo Nadia, meninas acima de nove anos e meninos acima de quatro anos foram levados a campos de treinamento.

“Depois levaram umas 80 mulheres, todas acima de 45 anos, incluindo minha mãe. Uns diziam que haviam sido mortas, outros que não. Mas quando parte de Sinjar foi liberada encontrou-se uma vala comum com seus corpos”, conta.

Ao todo, 18 membros da família de Nadia morreram ou estão desaparecidos.

Nadia foi levada com outras mulheres. Havia cerca de 150 meninas no grupo, incluindo três sobrinhas dela.

Elas foram divididas em grupos e levadas em ônibus até Mosul.

“No caminho eles tocavam nossos seios e esfregavam as barbas em nossos rostos. Não sabíamos se iam nos matar nem o que fariam conosco. Percebemos que nada de bom iria ocorrer porque já tinham matado os homens e as mulheres mais velhas, e sequestrado os meninos.”

Ao chegar ao quartel-general do EI em Mosul, encontraram muitas jovens, mulheres e meninas, todas yazidis. Tinham sido sequestradas em outras aldeias no dia anterior.

A cada hora, homens do EI chegavam e escolhiam algumas meninas. Elas eram levadas, estupradas e devolvidas.

Nadia percebeu que esse também seria seu destino.

Após fugir com ajuda de uma família muçulmana sem conexão com o EI, Nadia viaja o mundo chamando a atenção para o drama do povo yazidi.

Estado IslâmicoImage copyrightAFP
Image captionEstado Islâmico controla grandes partes do Iraque e da Síria

Sem compaixão

No dia seguinte, um grupo de militantes do EI chegou. Cada um escolheu uma menina, algumas entre 10 e 12 anos.

“As meninas resistiram, mas foram forçadas a ir. As mais jovens se agarravam às mais velhas. Uma delas tinha a mesma idade de minhas sobrinhas, chorava e se prendia a mim.”

Quando chegou sua vez, Nadia foi selecionada por um homem bem gordo que a levou a outro andar. Um outro militante passou e o convenceu a levá-la ─ mas isso não mudou as coisas.

“O homem mais magro me levou até sua casa, tinha guarda-costas. Estuprou-me, e foi muito doloroso. Nesse momento percebi que teria sofrido do mesmo jeito, não importa com quem.”

Nenhum dos homens mostrou clemência. Todos estupraram as mulheres de forma violenta. “As coisas que fizeram foram horríveis. Nunca imaginamos que coisas tão terríveis aconteceriam conosco.”

Os extremistas podiam manter as mulheres por mais de uma semana, porém frequentemente elas eram vendidas após um dia ou até uma hora.

Algumas mulheres dos irmãos de Nadia estavam grávidas quando foram capturadas e deram à luz no cárcere.

Elas também foram levadas ao tribunal islâmico do EI e forçadas a se converter.

Nadia passou três meses com o homem que a levou. Durante esse período conseguiu conversar com alguns sequestradores.

Embora algumas áreas de Sinjar tenham sido liberadas, ainda há valas comuns por descobrir

“Perguntei por que faziam aquilo conosco, por que haviam matado nossos homens, por que nos estupraram violentamente. Disseram-me que ‘os yazidis são infiéis, não são um povo das Escrituras, são um espólio de guerra e merecem ser destruídos'”.

Ainda que a maior parte desses militantes fossem casados, as famílias – inclusive as mulheres – pareciam aceitar o que faziam, disse Nadia.

Em uma ocasião, ela pediu autorização para fazer uma chamada telefônica porque queria escutar uma voz familiar.

Disseram que poderia ligar para seu sobrinho por um minuto, mas com uma condição: “Que primeiro eu lambesse o dedo do pé que um homem havia coberto com mel.”

Muitas jovens na mesma situação se suicidaram, disse Nadia, mas essa não foi uma opção para ela.

“Acho que todos devemos aceitar o que Deus nos deu, sem importar se é pobre ou sofreu uma injustiça, todos devemos suportar.”

Ela tampouco questionou sua fé. “Deus estava cada minuto em minha mente, ainda quando estava sendo estuprada.”

Nadia tentou fugir pela primeira vez por uma janela, mas um guarda a capturou imediatamente e a colocou em um quarto.

Sob as regras do EI, disse Nadia, uma mulher se converte em espólio de guerra caso seja capturada tentando escapar. Colocam-na em uma cela onde foi estuprada por todos os homens do complexo.

“Fui estuprada em grupo. Chamam isso de jihad sexual.”

YazidisImage copyrightEPA
Image captionYazidis são perseguidos pelo Estado Islâmico

Fuga

Após esse episódio, Nadia não pensou em fugir de novo, mas o último homem com quem viveu em Mosul decidiu vendê-la e foi arranjar roupas para ela.

Quando ordenou que ela tomasse banho e se preparasse para a venda, ela aproveitou para escapar.

“Bati na porta de uma casa onde vivia uma família muçulmana sem conexão com o EI e pedi ajuda. Disse que meu irmão daria o que eles quisessem em troca.”

Por sorte, a família não apoiava o EI e a apoiou inteiramente.

“Deram-me um véu negro, um documento de identidade islâmico e me levaram até a fronteira.”

Agora livre, Nadia Murad se tornou uma ativista que viaja o mundo fazendo campanha para chamar atenção para a tragédia dos yazidis.

Segurança

Ela já visitou os EUA, Europa e países árabes, falou na ONU, conheceu parlamentares e líderes mundiais.

A resposta, contudo, tem sido lenta.

“Todos sabem o que é o Estado Islâmico. Escutam-me com atenção mas não prometem nada”, afirma.

“Dizem que analisarão o caso e verão o que é possível fazer, mas até agora nada aconteceu”, acrescenta.

Após um ano e meio do ataque, ainda há mulheres e meninas sequestradas.

A região ainda não foi completamente liberada. Nas regiões em que o EI foi expulso, há valas comuns ainda não descobertas.

Nadia espera voltar a seu vilarejo para ver o que sobrou e saber do destino dos desaparecidos.

“Juro por Deus que todos estamos muito cansados. Já se passou um ano e meio desde que isso nos aconteceu. Sentimos que estamos abandonados pelo mundo”, disse Nadia, às lágrimas.

“Mataram minha mãe. Meu pai morreu faz tempo. Meu irmão mais velho era como um pai para mim, mas também foi morto. Peço ao mundo que faça algo por nós.”

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37834876

ISIS executa 250 mulheres em Mosul por se recusarem a ser escravas sexuais

Após a queda de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque que caiu nas mãos do ISIS, os militantes começaram a forçar as mulheres a aceitar o casamento temporário ou jihad sexual (jihad al-nikah), sob o pretexto de implementar a Sharia, e as mulheres enfrentam punições severas quando se recusam a submeter-se.

Um membro do Partido Democrático do Curdistão (KDP), de Mosul, afirmou que a vida é muito difícil para as mulheres em Mosul devido às rígidas regras do ISIS que lhes são impostas. O ISIS começou a selecionar mulheres de Mosul e as forçou a se casar com seus militantes chamando-o casamento temporário ou jihad sexual (jihad al-nikah), quando tomou o controle de Mosul, e as mulheres que se recusaram a submeter-se a esta prática seriam executadas. Ao menos 250 meninas até agora foram executadas pelo ISIS por se recusarem a aceitar a prática da jihad sexual, e às vezes as famílias das meninas também são executadas por rejeitar a aceitação do pedido do ISIS “, disse.

Ghayas Surchi, um funcionário do PUK de Mosul revelou que os direitos humanos estão sendo amplamente violados em todos os territórios detidos pelo ISIS, em particular, os direitos das mulheres porque elas são vistas como “commodities” e elas não têm arbítrio na escolha de seus cônjuges. Surchi acrescentou que as mulheres são proibidas de sair sozinhas em Mosul e devem estar totalmente cobertas quando estão em público. Meninas e meninos também não estão autorizados a ver uns aos outros e conversarem, sendo, portanto, difícil para eles escolherem seus cônjuges. No entanto, há comerciantes que secretamente organizam encontros entre meninos e meninas e eles cobram uma grande quantidade de dinheiro.

Os militantes tomaram o controle de Mosul, em Junho de 2014, após a queda do exército iraquiano na cidade, e desde então, têm sido executado os moradores da cidade por vários motivos para espalhar medo e obrigar os civis a obedecer.

http://en.abna24.com/service/middle-east-west-asia/archive/2016/04/19/748501/story.html

Iraquiana sequestrada pelo Estado Islâmico: ‘Fui vítima de jihad sexual’

Quando integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) invadiram a aldeia de Nadia Murad no Iraque, mataram todos os homens, incluindo seis de seus irmãos.

Nadia é da minoria étnica e religiosa yazidi, considerada “infiel” pelos extremistas do EI.

Ela e centenas de outras mulheres yazidis foram sequestradas, vendidas e passadas de mão em mão por homens que as estupraram em grupo. Foram vítimas do que o EI chama de “jihad sexual”.

Nadia conseguiu fugir, mas acredita-se que milhares de mulheres continuem presas.

Nadia Murad está em Londres em campanha para chamar a atenção para seu povo.

O ataque

Em 3 de agosto de 2014, o EI atacou os yazidis em Sinjar, região no norte do Iraque próxima a uma montanha de mesmo nome. Antes disso haviam atacado locais como Tal Afar, Mosul e outras comunidades xiitas e cristãs, forçando a saída dos moradores.

“A vida em nosso vilarejo era muito feliz, muito simples. Como em outros vilarejos, as pessoas não viviam em palácios. Nossas casas eram simples, de barro, mas levávamos uma vida feliz, sem problemas. Não incomodávamos os outros e tínhamos boas relações com todos”, contou Nadia ao programa HARDtalk da BBC.

Nesse dia, diz ela, 3 mil homens, idosos, crianças e deficientes foram massacrados pelo EI.

Alguns conseguiram fugir e se refugiar no monte Sinjar, mas a aldeia estava longe da montanha e o EI cercou as saídas.

Image copyrightReuters
Image captionPerseguidos pelo EI, os yazidis reverenciam a Bíblia e o Alcorão, mas grande parte de sua tradição é oral

“Rodearam a aldeia por alguns dias mas não entraram. Tentamos pedir ajuda por telefone e outros meios. Sabíamos que algo horrível iria acontecer. Mas a ajuda não chegou, nem do Iraque nem de outras partes.”

Depois de alguns dias, o EI encurralou os moradores na escola da aldeia e ali mantiveram homens, mulheres e crianças.

“Deram-nos duas opções: a conversão ao Islã ou a morte”, disse Nadia.

Assassinatos, sequestros e estupros

Logo separaram os homens, cerca de 700. Levaram todos para fora da aldeia e começaram a baleá-los. Nove irmãos de Nadia estavam entre eles.

Seis dos irmãos de Nadia morreram – três ficaram feridos mas escaparam.

“Da janela da escola podíamos ver os homens sendo baleados. Não vi meus irmãos sendo atingidos. Até hoje não pude voltar à aldeia nem ao local da matança. Não há notícias de nenhum dos homens.”

Image copyrightAFP
Image captionMulheres yazidis são alvo da chamada ‘jihad sexual’ do Estado Islâmico.

Segundo Nadia, meninas acima de nove anos e meninos acima de quatro anos foram levados a campos de treinamento. “Depois levaram umas 80 mulheres, todas acima de 45 anos, incluindo minha mãe. Uns diziam que haviam sido mortas, outros que não. Mas quando parte de Sinjar foi liberada encontrou-se uma vala comum com seus corpos.”

Ao todo, 18 membros da família de Nadia morreram ou estão desaparecidos.

Nadia foi levada com outras mulheres. Havia cerca de 150 meninas no grupo, incluindo três sobrinhas dela.

Elas foram divididas em grupos e levadas em ônibus até Mosul.

“No caminho eles tocavam nossos seios e esfregavam as barbas em nossos rostos. Não sabíamos se iam nos matar nem o que fariam conosco. Percebemos que nada de bom iria ocorrer porque já tinham matado os homens e as mulheres mais velhas, e sequestrado os meninos.”

Ao chegar ao quartel-general do EI em Mosul, encontraram muitas jovens, mulheres e meninas, todas yazidis. Tinham sido sequestradas em outras aldeias no dia anterior.

A cada hora, homens do EI chegavam e escolhiam algumas meninas. Elas eram levadas, estupradas e devolvidas.

Nadia percebeu que esse também seria seu destino.

Image copyrightReuters
Image captionApós fugir com ajuda de uma família muçulmana sem conexão com o EI, Nadia viaja o mundo chamando a atenção para o drama do povo yazidi.

Sem compaixão

No dia seguinte, um grupo de militantes do EI chegou. Cada um escolheu uma menina, algumas entre 10 e 12 anos.

“As meninas resistiram, mas foram forçadas a ir. As mais jovens se agarravam às mais velhas. Uma delas tinha a mesma idade de minhas sobrinhas, chorava e se prendia a mim.”

Quando chegou sua vez, Nadia foi selecionada por um homem bem gordo que a levou a outro andar. Um outro militante passou e o convenceu a levá-la – mas isso não mudou as coisas.

“O homem mais magro me levou até sua casa, tinha guarda-costas. Estuprou-me, e foi muito doloroso. Nesse momento percebi que teria sofrido do mesmo jeito, não importa com quem.”

Nenhum dos homens mostrou clemência. Todos estupraram as mulheres de forma violenta. “As coisas que fizeram foram horríveis. Nunca imaginamos que coisas tão terríveis aconteceriam conosco.”

Os extremistas podiam manter as mulheres por mais de uma semana, porém frequentemente elas eram vendidas após um dia ou até uma hora.

Algumas mulheres dos irmãos de Nadia estavam grávidas quando foram capturadas e deram à luz no cárcere.

Elas também foram levadas ao tribunal islâmico do EI e forçadas a se converter.

Nadia passou três meses com o homem que a levou. Durante esse período conseguiu conversar com alguns sequestradores.

Image copyrightAP
Image captionEmbora algumas áreas de Sinjar tenham sido liberadas, ainda há valas comuns por descobrir

“Perguntei por que faziam aquilo conosco, por que haviam matado nossos homens, por que nos estupraram violentamente. Disseram-me que ‘os yazidis são infiéis, não são um povo das Escrituras, são um espólio de guerra e merecem ser destruídos'”.

Ainda que a maior parte desses militantes fossem casados, as famílias – inclusive as mulheres – pareciam aceitar o que faziam, disse Nadia.

Em uma ocasião, ela pediu autorização para fazer uma chamada telefônica porque queria escutar uma voz familiar.

Disseram que poderia ligar para seu sobrinho por um minuto, mas com uma condição: “Que primeiro eu lambesse o dedo do pé que um homem havia coberto com mel.”

Muitas jovens na mesma situação se suicidaram, disse Nadia, mas essa não foi uma opção para ela.

“Acho que todos devemos aceitar o que Deus nos deu, sem importar se é pobre ou sofreu uma injustiça, todos devemos suportar.”

Ela tampouco questionou sua fé. “Deus estava cada minuto em minha mente, ainda quando estava sendo estuprada.”

Nadia tentou fugir pela primeira vez por uma janela, mas um guarda a capturou imediatamente e a colocou em um quarto.

Sob as regras do EI, disse Nadia, uma mulher se converte em espólio de guerra caso seja capturada tentando escapar. Colocam-na em uma cela onde foi estuprada por todos os homens do complexo.

“Fui estuprada em grupo. Chamam isso de jihad sexual.”

Fuga

Após esse episódio, Nadia não pensou em fugir de novo, mas o último homem com quem viveu em Mosul decidiu vendê-la e foi arranjar roupas para ela.

Quando ordenou que ela tomasse banho e se preparasse para a venda, ela aproveitou para escapar.

“Bati na porta de uma casa onde vivia uma família muçulmana sem conexão com o EI e pedi ajuda. Disse que meu irmão daria o que eles quisessem em troca.”

Por sorte a família não apoiava o EI e a apoiou inteiramente.

“Deram-me um véu negro, um documento de identidade islâmico e me levaram até a fronteira.”

Agora livre, Nadia Murad se tornou uma ativista que viaja o mundo fazendo campanha para chamar atenção para a tragédia dos yazidis.

Image copyrightReuters
Image captionSamantha Power (à esq.), embaixadora dos EUA na ONU, apresenta Nadia a integrantes do Conselho de Segurança

Ela já visitou os EUA, Reino Unido, Europa e países árabes, falou na ONU, conheceu parlamentares e líderes mundiais.

A resposta, contudo, tem sido lenta.

“Todos sabem o que é o Estado Islâmico. Escutam-me com atenção mas não prometem nada”, afirma. “Dizem que analisarão o caso e verão o que é possível fazer, mas até agora nada aconteceu”, afirmou.

Após um ano e meio do ataque, ainda há mulheres e meninas sequestradas.

A região ainda não foi completamente liberada. Nas regiões em que o EI foi expulso, há valas comuns ainda não descobertas.

Nadia espera voltar a seu vilarejo para ver o que sobrou e saber do destino dos desaparecidos.

“Juro por Deus que todos estamos muito cansados. Já se passou um ano e meio desde que isso nos aconteceu. Sentimos que estamos abandonados pelo mundo”, disse Nadia, às lágrimas.

“Mataram minha mãe. Meu pai morreu faz tempo. Meu irmão mais velho era como um pai para mim, mas também foi morto. Peço ao mundo que faça algo por nós.”

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160301_jihad_sexual_tg