Mais de 90 ataques na Síria atingiram hospitais apoiados pela MSF em 2015, denuncia ONG

Instituição pede investigação independente de ataque em Idlib que deixou 25 mortos.

RIO — O mais recente relatório da Médicos sem Fronteiras (MSF), divulgado ontem, revela um novo cenário de barbaridade na Síria: nem mesmo os hospitais estão seguros, e a saúde está em colapso. No ano passado, 94 ataques atingiram 63 instalações médicas apoiadas pela organização humanitária, deixando 12 delas completamente destruídas. Os bombardeios continuaram neste ano, mesmo depois do acordo assinado entre as potências mundiais, como EUA e Rússia, pelo fim das hostilidades na Síria. Dos seis hospitais atacados desde o início de 2016, cinco foram atingidos na segunda-feira, no Norte, matando dezenas. A consultora legal da MSF Françoise Saulnier denunciou que ações do tipo são cada vez mais frequentes no país e agravam a situação para os civis.

— Além do aumento dos ataques aos hospitais, cresceu o número de feridos que não conseguem ter acesso a essas instalações — afirmou ao GLOBO Françoise, de Paris. — A população está com medo de ir aos hospitais. As pessoas preferem morrer em casa de seus ferimentos do que ir para as instalações médicas, porque não há mais segurança nesses locais. A situação é cada vez mais terrível.

‘Não respeitam os princípios de Humanidade’

Um desses hospitais era apoiado pela MSF na província de Idlib e ficou destruído. Ao todo 25 pessoas morreram: nove trabalhadores e 16 pacientes — uma das vítimas era uma criança com menos de 5 anos. Segundo os relatos dos sobreviventes, quatro mísseis atingiram o prédio pela manhã em um ataque que durou menos de dois minutos. Cerca de 40 minutos depois, quando os feridos e mortos estavam sendo retirados, um novo bombardeio ocorreu, em um ataque que parecia ter como alvo as equipes de resgate.

A tragédia não acabou aí: uma hora mais tarde, um hospital próximo, que tinha recebido muitos dos feridos do primeiro ataque, foi atingido. A MSF denunciou os bombardeios em Idlib como ataques deliberados e pediu uma investigação independente, indicando que a ação foi, provavelmente, realizada pela coalizão do regime de Bashar al-Assad, apoiada pelas forças russas.

— Temos elementos indicando que o ataque foi realizado pela coalizão entre os sírios e russos, mas não temos provas. Por isso, é fundamental uma investigação independente para determinar as responsabilidades. Mas não é possível que os países envolvidos no conflito não façam nada além de acusar uns aos outros, sem esclarecer o caso — enfatizou Françoise. — É preciso transparência.

Enquanto isso, o número de bombardeios no país só aumenta e os civis imersos em um conflito prestes a completar cinco anos veem dia a dia a situação piorar. Hoje, dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, quatro realizam ataques na Síria: EUA, França, Reino Unido e Rússia. Enquanto os três primeiros participam de uma coalizão internacional contra alvos do Estado Islâmico, os russos apoiam o Exército sírio contra opositores. Para a consultora da MSF, as ações militares só agravam o drama humanitário.

— Os países não respeitam nem mesmo os princípios de humanidade, e a guerra contra o terrorismo não pode servir de justificativa para ações que aumentam o drama humanitário. A Síria vive uma situação de guerra total — apontou Françoise, cética sobre uma trégua. — Os acordos de paz não chegam ao terreno e não têm sido suficientes para parar os massacres e as operações violentas na Síria, principalmente porque as responsabilidades de cada um na trégua não foram esclarecidas.

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